De inicio somos todos bonecos articulados, quase com ossos de plástico.
Passamos o tempo a correr e a saltar, a pintar as pernas com manchas negras, de uma dor momentânea, que vai logo embora.
No fim, tornamos-nos quase estátuas silenciosas.
Andamos devagar e com nítidas dificuldades motoras.
E se somos colocados em "lares", a transformação em estátuas silenciosas, ainda se torna mais evidente.
Os lares lembram-me sempre a minha avó materna, não apenas dentro do seu corpo gasto e cansado, já de cadeira de rodas, mas também na dificuldade que começou a ter em falar, por falta de "ginástica da língua". Preferiu colocar-se na tal "ante-Câmara" para a última viagem, voluntariamente, escolhendo o silêncio à insanidade que a rodeava...
A escultura é de Berit Hildre.
Por muito bons e luxuosos que os lares sejam, nunca poderão substituir o ambiente familiar. É uma realidade. Mas a outra realidade é que hoje em dia é difícil cuidar dos mais idosos a partir do momento em que necessitam de cuidados especiais e constantes. Muitas das famílias não têm os meios financeiros para um lar de primeira qualidade, não podem deixar de trabalhar. Os mais abonados – digo, ricos – esses não serão afetados; dispõem de meios para usufruirem ou proporcionarem cuidados no próprio seio familiar. Ainda bem que o podem fazer, claro!
ResponderEliminarDas memórias que sedimentam o nosso palimpsesto.
ResponderEliminarUm texto que é a realidade da vida.
ResponderEliminarNos lares as pessoas ficam de cabeça baixa à espera de nada. Antes, tantos afazeres. Agora um excessivo descanso. É o que pensam... É o que lhes dói...
Um beijo, Luís.
Que triste, não é?
ResponderEliminarNem quero pensar nisso... A tradição na minha família é partirem de um omento para o outro e cedo, cedo de mais...
A escultura é muito bonita e foi muito bem escolhida.
pois não, Catarina.
ResponderEliminarfomos criando uma sociedade com melhor nivel de vida mas muito menos humana...
sim, Helena, e nos fazem pensar se este é o tempo certo...
ResponderEliminarmesmo sabendo que isso não existe.
quase que são obrigados a abrandar o viver, Graça...
ResponderEliminartriste e desumano, Carol.
ResponderEliminaraprendemos tantas coisas e desaprendemos outras, não menos importantes...
esta realidade doi-me de forma particular.
ResponderEliminaratinge-me violentamente e crava-se
difinitivamente como um cancro incurável.
um dia, numa das crónicas da rádio, levei este assunto a debate na tentativa de humanizar a forma como se olha este "esperar" a última viagem. não sei se ajudei a alguma mudança, mas persisto...
a voz cada vez mais frágil contra muros de resistência granítica.
sim, Maré.
ResponderEliminarpode-se viver até ao fim.