A 16 de Março de 1984 ela escreveu no "O Jornal" a crónica, "A Cidade talvez deserta", que depois foi publicada no seu livro "Este Tempo".
Mesmo que a Maria Judite escrevesse sobre problemas diferentes dos que a Capital enfrenta hoje, a realidade não engana:
«É uma estranha cidade, Lisboa. E, por este andar, um dia, lá adiante, o castelo dos Mouros e os Jerónimos e a torre de Belém, serão coisas anacrónicas e talvez, quem sabe, consideradas ladras de espaço útil. Eis-nos pois numa cidade remendada que vai expulsando de si os habitantes antigos e que expulsará mais tarde outros habitantes que serão antigos, e outros e outros, até à perfeição. Talvez venha a ser um dia, se a bomba ou o míssil o consentirem, a primeira capital sem moradores deste mundo.»
Parece-me que ninguém tem dúvidas, de que esta Lisboa é cada vez mais uma cidade estranha. Eu pelo menos, não tenho.
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Diz a Wikipedia que Maria Judite de Carvalho, “apesar da notória qualidade .... da sua obra..., a autora permanece ainda desconhecida do grande público.” Eu sou um membro desse público. Viveu em França e na Bélgica entre 1949 e 1998, ano em que faleceu. Em Lisboa.
ResponderEliminarPor isso fico a pensar e questiono se ela realmente conheceu bem Lisboa. Reconheço que da França e da Bélgica a Portugal seja apenas um pulinho.
É a tal coisa. As pessoas gostam do que gostam, habituam-se a um determinado estilo de vida, a uma determinada dinâmica da sua cidade e não gostam de mudanças. De evolução. E pelo que tenho ouvido (já não vou a Lx há uns anos), a cidade tem ficado ainda mais bela, mais encantadora e misteriosa. : )
Mais turismo... e isso é bom, desde que os turistas sigam as leis/normas do bom turismo.
Por curiosidade:
Vi no sistema de bibliotecas públicas de Toronto (com 100 bibliotecas espalhadas pela cidade) que existem alguns livros desta autora:
“Os Armários Vazios” : um em livro de papel e o outro no formato digital, que já requisitei apesar de ser em inglês.
Em português, mas como livros de referência, que não podem ser requisitados:
“Os Armários Vazios”, “Os belos contos da Língua Portuguesa”, “As Palavras Poupadas”, “Este Tempo: crónicas” e “Flores ao Telefone”.
Prefiro ler livros nas línguas originais, aquelas que leio e falo, evidentemente. Até leria em francês e espanhol, se houvesse traduções nestes idiomas.
Eu comecei a lê-la nos jornais, para ser mais exacto no "O Jornal", Catarina.
EliminarE depois vieram os livros, o seu olhar simples, bonito e muito atento, sobre o quotidiano lisboeta.
Dos que falaste li "Os Armários Vazios" e "Flores ao Telefone".
Gosto muito da escritora e da mulher, que só vi uma vez, na companhia do seu Urbano.
Quando ainda hoje acabar de ler o livro que tenho estado a ler, começo logo com Os Armários Vazios. Estou curiosa por ler esta jornalista/escritora que todos admiraram/admiram.
EliminarJá te disse que foi aqui que tomei conhecimento de novos (para mim) escritores portugueses? Mia Couto, por exemplo. Li uma série de livros dele; quase todos os que a biblioteca (aqui) possuia n altura. Anotei que foi em 2010. Portanto, nesse ano publicaste um post onde falavas dele. : ) E anotei também algumas das suas frases que achei muitíssimo interessantes:
“Ela está-se a fazer maior que o seu tamanho.” – O Outro Pé da Sereia.
“Ele tropeçou no passo que não deu” – não é mesmo ao estilo de Mia Couto?!! : ) e ainda
“A saudade é a única dor que me faz esquecer as outras dores.”
O Mia Couto é moçambicano. E é um grande escritor da língua portuguesa, mais um que tem um estilo e um vocabulário único, Catarina.
EliminarSobre a Maria Judite, depende sempre do nosso gosto, quem gosta de uma escrita sobre os nossos dias, o nosso quotidiano, gosta...
Sim, eu sei que ele nasceu em Moçambique. Lapso meu...
EliminarA Maria Judite de Carvalho era uma pessoa cheia de sensibilidade e com o olhar atento a tudo o que a cercava. Foi bom recordá-la aqui.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um abraço.
É verdade Graça, uma cronista encantadora, atenta e sensível às pequenas coisas da vida...
EliminarJá quando, lá para trás, o Luis aqui trouxe Maria Judite de Carvalho, era para ter dito qualquer coisa. Mas ficou no tinteiro. Hoje não falha.
ResponderEliminarUma escritora admirável, uma mulher inteligente. Viveu na sombra e solidão do seu marido o amável Urbano Tavares Rodrigues. O José Gomes Ferreira disse um dia que a autenticidade de Maria Judite de Carvalho nascia no ponto em que não estragava a liberdade com escravidões fáceis. Preferia as difíceis.
Ainda, levemente desconcertado o José Gomes Ferreira quando um dia a encontrou no dentista:
«- Não traz o cabelo penteado da mesma maneira!... – observou o dentista.
- Pois não. Como não gosto da minha cara e não posso mudá-la, mudo de penteado.
Procurei uma frase amável para lhe dizer, mas não a encontrei – malogro que ela infelizmente percebeu.
E no entanto bastaria dizer-lhe que, por mais que mudasse de rosto, nunca arranjaria outro mais inteligente.»
Não me vou embora sem deixar este pedacinho do «Este Tempo» de que estamos a falar:
«Não há nada mais tranquilizador, reconfortante e doce que um sonho reconhecidamente irrealizável.»
Grato por esta bela transcrição do grande Zé Gomes Ferreira, sobre a Maria Judite, Sammy, que foi uma mulher especial, até por ter sido jornalista, quando esta era uma profissão de homens...
EliminarSó mais uma “coisinha” : )
ResponderEliminarEm 2010 também li “Jesusalém”. Em 2013, Mia Couto veio a Toronto promover esse livro em inglês, com o título “The Tuner of Silences”. Comprei o livro só para ter a oportunidade de o cumprimentar, obter o seu autógrafo e tirar uma foto com ele. : )
Boa. :)
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