Mesmo assim, continuo a pensar que a maior parte dos casos está ligada à toxicodependência e a doenças mentais, num país que decidiu escolher o mais fácil: oferecer "uma vida normal" aos maluquinhos.
Foi por isso que dei alguma atenção ao sujeito que devia ter menos uns anos que eu, que me perguntou se lhe pagava um café. Não estava muito faladar nessa manhã e limitei-me a acenar que sim e fiz sinal à menina do café para servir o rapaz.
Não sei se foi por eu estar sozinho, se por ter vontade de conversar, que ele se aproximou com a chávena na mão e perguntou se se podia sentar. Voltei a acenar a cabeça, oferecendo-lhe um novo sim, mas preparado para ir embora, se começasse a sentir-me incomodado.
O meu primeiro pensamento foi para o seu cheiro. Apesar da roupa ter algumas nódoas, não cheirava mal. Mesmo quando não nos achamos preconceituosos, há sempre uma ou outra coisa que nos trai...
Perguntou-me se fumava. Disse que não. finalmente disse alguma coisa.
Foi quando ele resolveu "desarmar-me": «É sempre de poucas falas, ou apenas não gosta de falar com gente mal vestida?»
Fui obrigado a sorrir. E disse-lhe que devia ser um pouco das duas coisas. Estava longe de imaginar que aquele meu sorriso ia abrir a "caixa de papelão", daquele rapaz que devia estar quase a chegar ao meio século de vida...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Toma e embrulha!
ResponderEliminarBem no fundo todos temos os nossos preconceitos.
Abraço
Pois temos, mesmo quando pensamos que não, Rosa.
EliminarBoa tarde
ResponderEliminarMais uma vez digo:
Tirar uma lição do texto.
JR
É a vida, Joaquim...
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