Em relação à escolha deste poema, podia apenas dizer, «porque sim», mas devo dizer
mais qualquer coisa. Gosto muito das palavras da Alice e hoje é um dia em que as posso festejar. Não são palavras fáceis, podem e devem ter várias interpretações...
acontece-me frequentemente sair de casa
para escolher uma mulher na rua,
uma desconhecida, alguém cujo rosto seja um poema,
ou simplesmente um rosto.
visto umas calças e uma camisa velha
e saio na hora de ponta,
envolvo-me na multidão e atravesso ruas sem parar,
até encontrar esta mulher.
são fáceis de pintar,
tiram a roupa tão depressa como tiram os óculos
e despem-me em igualdade de circunstâncias.
não me fazem perguntas, falam das condições do tempo,
numa espécie de arrefecimento gradual
que vão experimentando com a idade,
e quase sempre me oferecem o corpo.
ainda virgens, comportam-se timidamente,
não mexem em nada, fazem gestos de grande ignorância,
encolhem-se sobre a sua própria magreza,
enrolam fios de cabelo nos dedos, à espera das palavras.
já tenho recebido mulheres casadas, estupidamente infelizes,
que deixam os filhos na escola e chegam extenuadas,
como se a tarefa da maternidade fosse invencível,
ou estas visitas pudessem aliviá-las.
com os olhos cheios de perguntas,
as mãos tão brancas e doridas, a pele enrugada,
cada ruga um enigma para o meu complexo ofício de pintor.
hoje, quando chegou, pediu-me com gentileza,
ponha algumas flores no meu retrato,
e foi sentar-se na cadeira.
depois, quando viu o retrato disse,
ficam já estas para as que me faltarem na campa, e saiu.
alice macedo campos
(in) a mulher sus.pensa
junho de 2010
Obrigado Alice!
E obrigado Mulheres (todas...), por existirem. Como seria horrível o mundo sem vocês...
O óleo é de Vitold Smukrovich.
Interessante e com mensagens profundas...
ResponderEliminarAdorei este poema
Bjs e dia feliz
obrigada pela parte que me cabe.
ResponderEliminaro poema da Alice é mesmo dela e a sua maneira peculiar de escrever.
um beij
estou sem palavras, Luís! Bem-hajas!
ResponderEliminarObrigada, Luís!
ResponderEliminarFeliz dia para as mulheres da tua vida!
Beijinho.
Obrigada, pela parte que me toca enquato mulher. Um abraço, Luis.
ResponderEliminarQue lindo poema! Mesmo! Muito bem escolhido (e olhe que não sou nada fã do dia da mulher).
ResponderEliminarBeijinhos e obrigada pelo seu bom gosto.
Obrigada pelo poema que não conhecia!
ResponderEliminarO mundo também não teria qualquer graça sem os homens! :-))
Somos diferentes mas não somos desiguais!
Abraço
Boa escolha do poema, Luís
ResponderEliminarBeijinho
também achei, Rita.
ResponderEliminarmesmo dela, das "entranhas", Piedade.
ResponderEliminareu tenho, Alice.
ResponderEliminarGRATO, espero que continues a surpreender-nos com as tuas palavras bonitas e diferentes.
tento que seja sempre dia delas, Maria. :)
ResponderEliminarabraço, Laura.
ResponderEliminartambém achei, Graça.
ResponderEliminarclaro que não Rosa, completamos-nos. :)
ResponderEliminarsenti isso, Maria C.
ResponderEliminartem tanta mensagem dentro...
Bem, sou obrigada a concordar! :) O mundo sem as mulheres seria no mínimo... estranho!
ResponderEliminarObrigada Luís Eme
Beijinho
pior que estranho, Margarida.
ResponderEliminarfeio.
Que bela mensagem, Luis! deve ser muito bom ser tua amiga. Foi das homenagens mais gostosas e menos óbvias que tenho lido desde que inventaram esse tal dia das mulheres. Vou buscar a autora, tb deve ser muito bom ser amiga dela ;)
ResponderEliminarBeijinhos e feliz dia do pai, antecipado! Se vivesses em Espanha tinhas o dia inteiro para ir ver gaivotas com teus filhos, é feriado aqui.
quase que me apetece dizer: «que belo comentário!»
ResponderEliminarés uma querida Lóri.