Cruzo-me muitas vezes com uma mãe que além de carregar as compras, segura os três filhos, sozinha, a caminho de casa.
Um deles é mais fugidio e ela farta-se de gritar com ele, preocupada com o seu amor tão precoce à liberdade.
O miúdo lembra-me o meu irmão, não pelo que conheço, mas pelo que ouço contar. A minha mãe recorda-nos muitas vezes a sua mais célebre fuga. Com apenas quatro anos largou-lhe a mão na Praça do Peixe e desapareceu. Preocupada, comigo ao colo, correu as redondezas e nada do meu irmão. A praça ficou toda num alvoroço à procuras da criança perdida...
Completamente desesperada e chorosa, só descansou quando regressou a casa e o encontrou sentado na porta, à sua espera.
Não lhe bateu, abraçou-o. Só depois de um longo abraço é que lhe deu uma reprimenda das grandes.
Quando sentimos a "dependência" dos nossos filhos, que mesmo com dez, onze anos, não andam por aí sozinhos, acabamos por estranhar esta "façanha" do meu irmão, que com apenas quatro anos, conseguiu percorrer "meia-cidade", sem a ajuda de ninguém, até chegar ao Bairro dos Arneiros, onde viviamos. Claro que estávamos nos anos sessenta do século passado, mas...
Quando vejo esta mãe, lembro-me de todas as "mães-coragem", que enfrentam o mundo de peito aberto, aparentemente sem grande apoio familiar.
O óleo é de Margarita Sikorskaia.
terá sido na praça do peixe de aveiro? é a que conheço melhor:) mas penso que no caso do teu relato, terá sido mais a sul:) um beijinho, luís*
ResponderEliminarE são muitas Luís. Cada vez são mais, as mães coragem.
ResponderEliminarSempre existiram e por todos os motivos, sempre existirão.
foi na praça do peixe da Caldas da Rainha, então ao ar livre, como a da fruta ainda hoje é, Alice. :)
ResponderEliminarsim, enquanto existirem filhos, existirão mães-coragem, Filipa.
ResponderEliminarSegundo a minha mãe contava eu fugi de casa até à Telha com apenas anos e os meus pais sofreram um grande susto. Mas pior foi ter saído de casa, moravamos num barracão junto ao rio, e perto de casa havia uns silvados. Parece que eu gostava muito de amoras silvestres. Ainda hoje gosto.
ResponderEliminarTinha anos e saí de casa para apanhar amoras e fiquei com o vestidito preso nas silvas. Chorei, chorei até que adormeci de cansada. Meus pais correram tudo à minha procura. Minha mãe com a minha irmã recem nascida ao colo deu a volta à Seca pôs toda a gente num alvoroço, meu pai e os vigias da seca correram a praia, mergulharam várias vezes entre os tufos de junco pensando que estivesse morta e presa nalgum deles. Foi uma aflição que eles contavam muitas vezes mas de que não tenho a minima recordação.
Já a minha irmã levou até aos nove anos que só saía de casa acompanhada, tinha medo de tudo.
Um abraço e uma boa semana
somos todos diferentes e todos iguais, Elvira.
ResponderEliminarMeu Deus Luís! Que valente susto! Em tempos, o meu irmão também se perdeu em Fátima num dia 13 qualquer... Felizmente teve a inteligência de ficar sentado nas escadarias até ser encontrado! As crianças são surpreendentes! :)
ResponderEliminarBeijinhos
*O óleo, uma beleza como sempre...
o meu irmão era tramado, Margarida.
ResponderEliminarfez várias aventuras do género, antes dos seis anos, mas aparecia sempre em casa.