E ainda bem que isso aconteceu. No início achei estranha toda aquela misturada de personagens, quase a quererem falar ao mesmo tempo, sem tempo para percebermos que dizia o quê, Lembrou-me "A Torre de Barbela" de Ruben A., e claro, os romances de Lobo Antunes (cada vez me convenço mais que é ele que se baralha com as personagens e com os lugares, colocando-os na acção errada...).
Mas à medida que fui entrando no romance da Isabel, fui ganhando alguma intimidade com as personagens e com as suas ambiguidades, que as tornam mais humanas. Mesmo que se perceba que pertencem à classe média alta (não, não andam a lavar escadas, são médicos, professores, donas de casa que estudaram francês e aprenderam a tocar piano...), isso só ajuda. São capazes de pensar mais alto...
O mais curioso é tratar-se de um livro cuja acção se limita a uma sala (até agora só a vida das pessoas é que saiu de casa...), e mesmo assim, deixa-nos presos às palavras e às personagens criadas pelas autora.
Este romance tem uma introdução de Mário Dionísio, que é o seu discurso, escrito e lido em 1964, na entrega do "Prémio Camilo Castelo Branco" a Isabel da Nóbrega. Claro que não a li (nunca o faço, perdia a graça estar a ler e saber já a opinião dos "outros", neste caso, outro...). Trata-se da sua quinta edição, de 1984.
Tudo isto para dizer, que se trata de mais um daqueles livros que poderia ter lido há vinte anos ou trinta anos e só o li agora. E ainda bem. Acho que estou mais preparado para absorver este "Viver com os Outros", porque mesmo sem dar por isso, duas décadas, ofereceram-me mais vida, e claro, os dramas de "vários outros" (como todos nós).
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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