Pouca gente à nossa volta na esplanada do café, muito cerimoniosa ou ainda sonolenta. Éramos os únicos que falavam, os outros viam e liam as novidades através do pequeno rectângulo que lhes enchia as mãos e os olhos. Só um homem lia o jornal (esse mesmo, o do costume...) e parecia deliciado.
O meu companheiro falou da estranheza de já não se verem pessoas a lerem jornais desportivos. Eu, meio a brincar meio a sério, disse-lhe que talvez prefiram ser informadas pelos programas onde se comenta aos gritos, quase num teatro televisivo. Mas depois lembrei-me do meu vizinho do rés de chão que compra todos os dias a "bíblia", que se tornou um jornal comunitário. Expliquei o seu percurso, tal como ele me contou. Compra o jornal às oito, juntamente com o pão para o pequeno almoço, às dez volta a sair de casa e deixa-o no restaurante do Carlos, onde passa por várias mãos, até ser levado por outras mãos amigas, depois do almoço, para voltar a ser lido por vários olhos.
Voltámos ao "jornal-rei", que além da capa sugestiva, tem sempre um manancial de informação. Fala-se dos bombardeamentos da guerra, dos incêndios que voltaram (quem terá acordado os malditos incendiários?), dos homens que batem em mulheres, das corajosas que fartas envenenam trastes que também eram maridos, do jogador que foi vendido pro milhões... e sim, também dão relevo a uma qualquer odalisca, meio vestida, que trocou de marido, como se troca de automóvel. E poderia continuar. É de facto um jornal com notícias.
E sim, quando o Carlos disse: «O segredo é a capa. Quase que abre a porta à ficção.» Estava quase certo. Só é pena que os seus leitores não fiquem famintos de ficção e se voltem para os livros das boas e grandes histórias...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Desde que fiquei sozinha, aqui em casa só entram os jornais locais e um regional.
ResponderEliminarUm sábado destes ainda comprei o Expresso que também traz um regional, O Mirante de Santarém mas arrependi-me.
Chegam-me as capas na net e o noticiário das 21, 30 na RTP2
Eu foi depois da pandemia, praticamente rendi-me ao digital e deixei o papel, Rosa.
EliminarHá mais de 15 anos que deixei de ser assinante de um jornal de grande rodagem, que recebia apenas aos sábados. E de algumas revistas tb. Portanto, não pego num jornal deste então. Nem em revistas em salas de espera, porque estas já não estão em cima das mesas desde a pandemia.
ResponderEliminarParece que está tudo digitalizado aqui em casa.
Esse jornal parece ter informações para distrair o pessoal. : )
Sim é um jornal muito versátil este "Correio", Catarina. :)
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