Embora hoje fosse tempo de andar em frente, eu tinha algumas palavras escritas pelo jornalista José Silva Pinto na edição de "O Jornal", do dia 25 de Abril de 1980, guardadas para publicar hoje.
Felizmente durante estes dias a televisão recordou muitas das injustiças que fizeram a Salgueiro Maia, por este assumir logo no dia 26 de Abril, que não queria ser político, queria sim continuar a ser militar, e regressar aos quartéis.
Ninguém lhe perdoou a ousadia, nem mesmo aqueles que deviam estar na linha da frente para o defenderem, os próprios companheiros do MFA...
Mas vamos lá às palavras de José Silva Pinto:
«O capitão que mais se notabilizou, aos olhos do povo, na "batalha" pela liberdade, no dia 25 de Abril, está agora, virtualmente reduzido a um lugar de burocracia - ao alcance de um sargento -, como comandante da secção dos presidiários, na prisão militar de Santarém.
Esse capitão chama-se Fernando Salgueiro Maia, tem 35 anos de idade, e as crónicas da "Revolução dos Cravos" apontam-no como responsável por uma das acções mais corajosas da operação "Fim do Regime", levada a efeito, com êxito pelo Movimento das Forças Armadas: o cerco ao quartel do Carmo, onde, afinal de contas, caiu a ditadura mais velha da Europa.
"Responsável" ou "implicado"? nos círculos mais próximos do capitão Salgueiro Maia, há quem seja tentado a supor que o comandante da coluna que, numa madrugada de há seis anos, arrancou de Santarém para Lisboa. é agora visto pelas altas esferas militares como um homem que deve expiar a "culpa" de ter entrado no 25 de Abril...
Só falta declararem-no implicado..." O comentário, obviamente amargo - em demasia, talvez? - ouvi-o em Santarém, um destes dias, numa roda de admiradores deste homem que, vencedor de duas datas-chave do regime democrático - o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975 - poderia ter sido brigadeiro, general, ministro, ou membro do Conselho da Revolução, mas preferiu manter-se, apenas, capitão.»
E é também importante não esquecer algumas atitudes miseráveis de um primeiro-ministro e presidente da república (de letra pequenina mesmo), que será colocado no seu devido lugar, pela história. A recusa da pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, ao mesmo tempo que atribuía outras a inspectores da PIDE, por "serviços relevantes prestados à pátria" ou a ausência nas honras fúnebres de José Saramago, o nosso único Prémio Nobel da Literatura, são apenas dois exemplos da sua completa ausência de honradez e de sentido de Estado.
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Excelente texto! Para memória perpétua! (Guardei, se não levar a mal...)
ResponderEliminarSaudações revolucionárias!
Olá Graça.
EliminarPode guardar o que quiser. :)
Saúde.
A recusa da pensão de sangue à viuva de Salgueiro Maia. Daquela personagem arraigada ao Estado Novo. Outra coisa não era de esperar.
ResponderEliminarÉ realmente uma personagem sinistra, no mínimo, Edum.
EliminarRecebeu ainda, pelo menos, condecorações de três presidentes da República, Soares, Sampaio e Marcelo, esta última recebida pela mulher a título póstumo. Faleceu com a patente de tenente coronel, o que não invalida todas as humilhações que sofreu na carreira militar, o mais valoroso soldado do 25 de Abril.
ResponderEliminarAs pessoas precisam de ser reconhecidas, no seu devido tempo, não é quando já estão doentes ou já faleceram, Albertino...
EliminarExcelente grafite
ResponderEliminarCuide-se
Eu chamava-lhe "mural", Ricardo. :)
EliminarDo manequim da Rua dos Fanqueiros não reza a história...
ResponderEliminarPois não, Severino. :)
EliminarEle até achou normal receber o lucro que recebeu das acções do BPN...