terça-feira, agosto 09, 2011

Quando Foi Que Perdemos a Rua?


Depois de ter despejado o lixo resolvi dar uma volta pelo quarteirão. Passava das vinte e três horas e um grupo de "putos" cujas idades deviam andar entre os 10 e os 15, brincavam na rua, num misto de apanhada e escondidas.


O único que se meteu comigo foi o mais novo, estava pendurado numa árvore e antes que eu dissesse alguma coisa, disse que não caia dali. Sorri e disse-lhe que sim, acrescentando que para ele não cair tinha de se segurar bem.

Os outros rapazes maiores passavam rente a mim, como se eu não existisse. Um pouco mais à frente estavam umas bicicletas caídas no chão e umas bolas de futebol alinhadas. Percebi que alguns tinham vindo de outros quarteirões brincar para a minha rua.

Sabia que eles não eram uns rapazes quaisquer, tinham a liberdade de andar na rua, coisa que o meu filho e outros miúdos perderam, há bastante tempo.

Nós pais somos os principais culpados de eles não terem uma rua, fomos nós com o super (e normal) proteccionismo, que os habituámos a não sair à noite sozinhos, etc, por "causa" dos filmes que nos vendem de violência, quase a todas as horas na "caixa mágica"...

O óleo é de Kim Cogan.

6 comentários:

  1. Um texto, Luís, que daria para uma longa, longa conversa. Fomos nós, sim, que nos deixámos apanhar no "beco" em que globalmente vivemos.

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  2. Os meus filhos ainda tiveram a felicidade de jogar ao berlinde, à bola, aos polícias e ladrões na rua, que não era asfaltada, com os amigos do lado!
    Nós, pais, absolutamente descansados!
    Só que o alcatrão, o cimento, a construção desmedida e o aumento do trânsito terminaram com essa placidez!
    Nesta terra não vejo crianças a brincar em lado nenhum, excepto num modesto parque infantil situado dentro de um parque de estacionamento, pasme-se!
    Por isso a ausência das crianças da rua não é só pelos medos dos pais.
    É que a rua está mesmo perigosa...

    Abraço

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  3. sem dúvida, Helena.

    estamos a deixar-nos levar a séria. estamos a entrar na "ficção cientifíca".

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  4. não é só o alcatrão e os carros, Rosa.

    mudámos, fechámos o portão da rua.

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  5. É verdade que as relações de vizinhança também mudaram...
    Quando os meus filhos eram pequenos eu sabia que cada vizinho era um "guardador" de todos os que brincavam na rua como eu também o era!
    E saltavam os muros dos jardins e lanchavam em casa uns dos outros...
    Quando nos encontramos, uma vez que todos partiram, ainda me falam desses tempos felizes!

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  6. sim, Rosa, também a comunicação e a afectividade falharam, quase que acabaram com os bairros e a sua familiaridade.

    hoje existem ruas e quarteirões, sozinhas e silenciosas...

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