Encontrei nas ruas de Lisboa um dos meus mestres do jornalismo, o "Lola". Gostei muito de o ver, de o abraçar, de sentir que continua rebelde e sem dono, apesar de receber uma reforma curta, que mesmo assim não lhe rouba o prazer de uma boa comezaina nem da cachimbadela depois da refeição. E como gostei de sentir o cheiro único do tabaco de cachimbo, algo quase inexistente nas nossas urbes.
A sua alcunha singular não nasceu de qualquer preconceito sexual, mas sim da paixão ardente por uma bailarina do Parque Mayer, nunca totalmente correspondida. Este amor além de lhe ter marcado a juventude, foi cravado na sua "pele" por toda a gente que o conhecia e conhece, no Bairro Alto e arredores. Tenho quase a certeza que se alguém gritar por Carlos, ele nem se deve voltar para trás, porque o "Lola", foi e é, a sua verdadeira identidade lisboeta.
Está profundamente desiludido com o mundo, por perceber que os homens em vez de lutarem pela igualdade e liberdade, preferem espezinhar e ser espezinhados, nesta autêntica selva capitalista.
Do jornalismo nem quis falar, pela falta de coluna vertebral dos escribas da corte e pela "autêntica dança de cadeiras", que acontece sempre que há eleições, com os críticos mais severos do PS a receberem como prémio lugares de assessores, directores de comunicação, chefes de gabinete e até secretários de estado, tal como já sucedera antes com os críticos do PSD, quando os socialistas entraram para o poder.
É por isso que diz que o mundo mudou, mas para pior, tal como o jornalismo. Admite que a malta do seu tempo escrevia pior que a gente que sai das universidades, mas escreviam notícias e não artigos encomendados por este ou aquele grupo e económico. E andavam de costas direitas, sem se preocuparem com os colarinhos das camisas roçados, a cor das gravatas ou com os buraquitos que apareciam nas meias...
Em mais de duas horas de conversa, limitei-me a ouvir e a sorrir, grato por receber aquela lufada de ar, cheia de lucidez, que ainda me deixou mais satisfeito por ter acontecido minutos depois de uma reunião de trabalho, povoada de "lambe botas"...
O óleo é de Bjorn Richter.
Todos os que achamos que a vida não é isto estamos desiludidos com o mundo.
ResponderEliminarViver tornou-se o desafio constante de sermos autênticos.
Acho que nunca comentei, mas adoro esta tua capacidade de escolher um óleo para cada post.
Beijinhos, Luis.
Luís, não concordo com o "Lola" quando disse que antigamente os jornalistas escreviam pior, e tinham que contornar a censura,mas tem razão quanto ao jornalismo de hoje.
ResponderEliminarNos anos sessenta lia muito o jornal "A Bola". As crónicas do Vítor Santos, quando o Benfica jogava no estrangeiro, deu-me a conhecer como se vivia naqueles países, pois não se limitava a transcrever o "clima" que antecedia os jogos ou as peripécias do jogo propriamente dito.
Conhecer pessoas desse tipo é uma benção - gente de carne osso e não de plástico e daqueles do "antes quebrar que torcer". Infelizmente vão rareando.
ResponderEliminarObrigada por teres trazido aqui tão curiosa e apetecível figura.
Concordo, Luis. O mundo mudou pra pior e o jornalismo também, vivemos na época dos conchavos. A partir de alianças derruba-se um político ou um partido. A isenção acabou, dança-se conforme a música e o jornalismo entrou nesta dança, infelizmente.
ResponderEliminarBeijos
Quantas terão sido já, as Lolas que neste mundo, imprimiram nos corações dos Homens Livres, o seu ferro?!
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=nVXmMMSo47s
Talvez não tantas como se possa pensar, porque os ditos, não abundam.
Subscevo o que escreve a Filoxera; é tudo uma questão de saber manter e defender a autenticidade, ou seja; de não nos deixarmos infectar pelo míldio.
;)
viver é mesmo um desafio, Filoxera.
ResponderEliminare é cada vez mais difícil sermos autênticos, porque o desemprego rouba-nos quase tudo.
Carlos,
ResponderEliminar"A Bola" não é exemplo, era a excepção, já que tinha alguns dos melhores jornalistas do país, mesmo que tivessem estatuto de jornalistas de segunda.
mas se Vitor Santos, Carlos Pinhão, Carlos Miranda ou Alfredo Farinha, estivessem por cá hoje, não poderiam escrever como escreviam, porque no jornalismo de hoje, quase que valem mais as imagens que as palavras...
vão rareando mesmo, quem é livre não serve a patrões, que têm medo de quem tem carácter e honra, Helena.
ResponderEliminarexistem hoje mais monopólios na comunicação social que antes de Abril, Cris.
ResponderEliminaros principais jornais pertencem ou são reféns dos grandes grupos económicos.
pelo que o pluralismo e a liberdade de imprensa não passam de uma ilusão.
mas é cada vez mais dificil, Bartolomeu.
ResponderEliminarquando se tem família para alimentar, muitas vezes somos forçados a deixar de ser nós próprios.