sexta-feira, agosto 12, 2011

O Espantalho, a Natureza e a Poesia


Já fizera um pouco de tudo, mas nunca estivera assim, em exposição para o mundo.
Nos primeiros dias achou tudo aquilo agradável, por ser novidade e por ter tanto tempo para olhar, pensar e sonhar acordado.

Adorava sentir o vento a entrar e a sair pelas suas roupas largas, cheias de "respiradores".


Divertia-se ao perceber que a sua figura era assustadora, principalmente para os pássaros, que nunca se aproximavam muito da área cultivada.


Pouco tempo depois quis entender a razão deste "respeito". Pensou que era da sua posição, quase de Cristo na cruz, com os braços bem abertos, com pedaços de palha a saírem das mangas do casaco, que ainda por cima soltavam sons quase musicais, quando o vento soprava mais forte.


Foi por isso que no dia seguinte decidiu baixar os braços. Alguns pássaros mais corajosos entenderam o gesto e aproximaram-se, sem sentir qualquer animosidade. Surpreendidos e satisfeitos, voltaram à sua ladainha diária, penicando os frutos e as plantas apetitosas, da melhor horta das redondezas.


Quem não gostou daquele baixar de braços foi o patrão. Desceu imediatamente do seu pedestal e sem pedir explicações, despediu-o.


Ele não se importou muito. Ao princípio achou graça, mas depois percebeu que era demasiado triste a vida de espantalho...


O óleo é de Andrea Kowch.


12 comentários:

  1. Um texto com muitas entrelinhas e muito actual.

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  2. Concordo com hfm.
    Bom fim de semana

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  3. Acma de tudo, a coerência :-)
    Beijinhos.

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  4. Este texto, é a continuação do anterior?!
    Eu, vivo no campo desde ha 15 anos. Apercebi-me que a crise viria, sem ainda se notarem os sinais que hoje nos atormentam. Adquiri um terreno e construi uma habitação. No terreno, cultivo uma horta e um pomar. Quando semeio, tenho sempre em linha de conta, a porção destinada aos pássaros, aos coelhos, etc.
    Afinal... o mundo é de todos.
    ;)))

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  5. sim, Helena.

    eles adoram espantalhos e robôs.

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  6. bom fim de semana, Catarina.

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  7. e a liberdade, Filoxera, essa "utopia" bonita.

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  8. pode ser, Bartolomeu, depende do nosso ponto de vista.

    era tão bom que os senhores que querem o mundo só para eles, se lembrassem que o mundo é de todos.

    talvez sejam forçados a lembrarem-se disso, como aconteceu em 1974.

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  9. Muito triste...
    Não se pode baxar os braços! Não se pode...

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  10. pois não, Carol.

    mas o pior ainda vem aí...

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  11. muito actual...com entrelinhas a serem relidas.

    beij

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  12. sim, Piedade.

    muito para ler, infelizmente.

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