Já fizera um pouco de tudo, mas nunca estivera assim, em exposição para o mundo. Nos primeiros dias achou tudo aquilo agradável, por ser novidade e por ter tanto tempo para olhar, pensar e sonhar acordado.
Adorava sentir o vento a entrar e a sair pelas suas roupas largas, cheias de "respiradores".
Divertia-se ao perceber que a sua figura era assustadora, principalmente para os pássaros, que nunca se aproximavam muito da área cultivada.
Pouco tempo depois quis entender a razão deste "respeito". Pensou que era da sua posição, quase de Cristo na cruz, com os braços bem abertos, com pedaços de palha a saírem das mangas do casaco, que ainda por cima soltavam sons quase musicais, quando o vento soprava mais forte.
Foi por isso que no dia seguinte decidiu baixar os braços. Alguns pássaros mais corajosos entenderam o gesto e aproximaram-se, sem sentir qualquer animosidade. Surpreendidos e satisfeitos, voltaram à sua ladainha diária, penicando os frutos e as plantas apetitosas, da melhor horta das redondezas.
Quem não gostou daquele baixar de braços foi o patrão. Desceu imediatamente do seu pedestal e sem pedir explicações, despediu-o.
Ele não se importou muito. Ao princípio achou graça, mas depois percebeu que era demasiado triste a vida de espantalho...
O óleo é de Andrea Kowch.
Um texto com muitas entrelinhas e muito actual.
ResponderEliminarConcordo com hfm.
ResponderEliminarBom fim de semana
Acma de tudo, a coerência :-)
ResponderEliminarBeijinhos.
Este texto, é a continuação do anterior?!
ResponderEliminarEu, vivo no campo desde ha 15 anos. Apercebi-me que a crise viria, sem ainda se notarem os sinais que hoje nos atormentam. Adquiri um terreno e construi uma habitação. No terreno, cultivo uma horta e um pomar. Quando semeio, tenho sempre em linha de conta, a porção destinada aos pássaros, aos coelhos, etc.
Afinal... o mundo é de todos.
;)))
sim, Helena.
ResponderEliminareles adoram espantalhos e robôs.
bom fim de semana, Catarina.
ResponderEliminare a liberdade, Filoxera, essa "utopia" bonita.
ResponderEliminarpode ser, Bartolomeu, depende do nosso ponto de vista.
ResponderEliminarera tão bom que os senhores que querem o mundo só para eles, se lembrassem que o mundo é de todos.
talvez sejam forçados a lembrarem-se disso, como aconteceu em 1974.
Muito triste...
ResponderEliminarNão se pode baxar os braços! Não se pode...
pois não, Carol.
ResponderEliminarmas o pior ainda vem aí...
muito actual...com entrelinhas a serem relidas.
ResponderEliminarbeij
sim, Piedade.
ResponderEliminarmuito para ler, infelizmente.