Escutava-o embebecido, pela forma pormenorizada com que relatava cada uma das suas histórias de amor impossíveis.
Começou pela miúda dos búzios, que encontrou a escutar o mar, a poucas centenas de metros da praia. Convidou-a para ir ouvir o oceano sem búzio, ela olhou-o surpreendida, para de seguida lhe virar as costas. Passou mais vezes pelo mesmo lugar, mas nunca mais encontrou a pequena.
Até chegou a pensar que tinha sido fruto da sua imaginação, mas quase no final de férias, viu-a na praia de mão dada com um rapaz muito penteadinho.
Pensou que tinha aprendido a primeira lição sobre as mulheres e chegou a pensar em comprar um pente.
Depois falou da loura, que podia ser da Suécia, mas era da Amadora. Tinha uma irmã gémea, bem portuguesa, que fez tudo para que a coisa não resultasse. Como era de ideias fixas, deixou a irmã da sua musa, a chuchar no dedo.
Julgou que tinha aprendido a segunda lição, pensando que duas mulheres eram uma multidão, e se fossem irmãs, a coisa ainda aumentava de volume...
Cresceu um palmo e apaixonou-se por uma mulher casada, aparentemente infeliz, mas incapaz de dar qualquer "facadinha" no matrimónio. Pensava que os olhares que trocavam na mercearia não enganavam. Mas nunca passou disso. Apeteceu-lhe bater à porta da senhora e cantar-lhe qualquer canção do bandido. Mas a sua voz era péssima...
Podia estar ali a noite toda a contar histórias de amores impossíveis, apenas porque nunca se esforçou para que fossem possíveis, como confessou.
Quando ele lhe perguntou pela mulher, com quem estava casado há mais de trinta anos, o velho amigo piscou-lhe o olho respondeu: «não casei por amor.»
O óleo é de Spartaco Lombardo.
A resignação... Triste, mas um conto bonito.
ResponderEliminarBeijos.
Deliciosa esta estória! :-))
ResponderEliminarNem é preciso referir o óleo...
Abraço
Bem... se está casado há 30 anos e continua casado é porque afinal uma forte amizade é o segredo de um casamento feliz! Se não for daqueles senhores que gostam de ... como direi?... vivenciar outras experiências fora do aconchego do lar! : )
ResponderEliminarO menino Luís anda um bocado para o macambúzio nas suas histórias... nem sei em porquê - não há motivos!
ResponderEliminarMas lembre-se: não se pode baixar os braços! "Jamé"
o resultado foi imprevisível.
ResponderEliminargostei!
beij
uma brincadeira com palavras, a partir do quadro, Filoxera.
ResponderEliminardeu o que deu. :)
só por teres gostado valeu a "invenção", Rosa.
ResponderEliminartalvez ele não soubesse distinguir paixão de amor, Catarina. :)
ResponderEliminaré uma proabilidade, Carol. a realidade é uma "terrorista". :)
ResponderEliminargosto sempre de oferecer finais improváveis, Piedade. :)
ResponderEliminarComo eu costumo dizer aqui deste lado do Atlântico: dorei tumatxi! Bela "viagem" a partir de um óleo. E bem que poderia ser uma estória verdadeira...
ResponderEliminarBeijos, Luis
O Homem e as suas circunstâncias...
ResponderEliminarPor momentos pensei que esta história fosse verdadeira :)
Beijinhos, Luís
sim, deve haver muitas próximas, Cris. a ficção nunca foge muito da realidade. :)
ResponderEliminarpor momentos, Virginia. :)
ResponderEliminarLindo.
ResponderEliminargostei de gostares, Laura.
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