Estávamos entretidos na conversa à mesa do café, quando o Vitinha surgiu à entrada, com o cabelo esbranquiçado, quase todo de pé. Olhou para todos os lados, já com o saco do almoço na mão, o habitual cozido, encomenda da "patroa", até nos encontrar.
Aproximou-se e depois de nos cumprimentar, sem se sentar, começou a contar a história da vidinha dele nos últimos dois meses, em que praticamente desapareceu do café, por razões que até a própria razão finge desconhecer.
Tudo lhe aconteceu neste tempo. Só faltou cair-lhe o tecto da casa, embora o mesmo tenha acontecido ao vizinho do lado por causa de uma infiltração do andar de cima. Depois vieram as doenças, nada escapou, da cabeça aos pés. Para terminar o rosário, vieram os medicamentos, cada vez mais caros, depois os médicos que passam as receitas com a totalidade dos medicamentos, incomportáveis para as bolsas pobres.
Quando ele virou as costas, Carlos com a sua bonomia disse-nos: «este gajo devia escrever fados, em vez de histórias que ninguém lê. Conhece como ninguém o dia-a-dia dos desgraçadinhos.»
O óleo é de Frank McNab.
E este é o fado da maioria do nosso povo. Principalmente daqueles que já ultrapassaram os 60.
ResponderEliminarAbraço
pois é
ResponderEliminarhá vidas que são fados
e historias que são vidas
gostei.
um beij
há gente com uma capacidade terrível de atrair problemas, Elvira.
ResponderEliminarparece que estão à esquina a assobiar-lhes.
sim, e depende muito de nós, fazermos da vida um fado ou não, Piedade.
ResponderEliminarNada pior que as pessoas que têm pena de si próprias e alimentam as suas "desgraças" dando-lhe uma importância que às vezes não têm.
ResponderEliminarBeijinhos:))
é verdade, Virginia.
ResponderEliminarhá mais vida para além do fado da "desgraçadinha".
Há visa em que as pessoas parecem mesmo personagens nas quais todos os dramas confluem.
ResponderEliminar(Obrigada pelos parabéns. Foi um dia feliz. Assinalo sempre.)
Beijos.
sim, Filoxera, como se andassem voluntariamente com um iman no bolso. :)
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