E de facto pensava cada vez mais "nisso", tinha sempre a sensação que gostava mais de sexo que a mulher.
David não se achava um porco, talvez ligeiramente tarado. Mas nem sempre fora assim...
Claro que não tinha saudades dos seus tempos de "inocência". Ninguém deve ter.
Viajou pela memória e descobriu a primeira vez em que lhe apeteceu chamar "porco" a um homem. Começou a trabalhar com apenas dezasseis anos, numa fábrica de decoração. Foi empurrado para a secção das costureiras e dos criadores, onde fazia um pouco de tudo. Nesse tudo faziam parte as alterações dos quartos e salas que serviam de modelo para os clientes.
O chefe, um sujeito alto e com uma grande penca, costumava mandá-lo juntamente com uma miúda da sua idade, filha de uma das costureiras, para as limpezas e preparação da mudança de cenário. Tornaram-se amigos e aproveitavam para falar de coisas que não podiam falar à frente dos colegas mais velhos, quando estavam só os dois. Esta cumplicidade não passou despercebida ao "manda chuva".
Uma vez perguntou-lhe, descaradamente: «então já comeste a miúda?» David não lhe deu qualquer resposta, mas ofereceu-lhe um olhar onde demonstrou não ter achado graça à questão. E claro que não "comera" a miúda. Sabia que aquele não era o local, nem a hora para "isso".
Ao pensar nisso, sente que aos dezasseis anos o sexo não era uma prioridade na sua vida, como não deve ser, na vida de qualquer adolescente. À distância de trinta anos, pensa que a inocência, misturada com as muitas dúvidas e incertezas, arrefeciam o desejo.
Agora também era chefe de secção, mas nunca seria capaz de perguntar a um empregado, se já tinha feito isto ou aquilo, com uma das colegas. Nem era coisa que o preocupasse.
Uma coisa não invalidava a outra e não tinha dúvidas que pensava muito mais em sexo que antes. Talvez a mulher tivesse razão...
O óleo é de Van Wieck.
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