Sei que nas grandes cidades há o mau hábito de não olharmos o outro, corremos atrás da indiferença, empurramos, levamos encontrões, raramente recebemos ou pedimos desculpa.
É por estas e outras coisas que continuo a achar que sou um "provinciano". Olho para as pessoas, peço desculpa pela pisadela ou encontrão que dou, enfim, parvoíces, que não são normais nas "capitais do mundo"...
Mas para tudo há uma explicação. Uma das razões para não se olhar o outro, é a miséria alheia estar muito mais presente em Lisboa (quase em todas as ruas...), que numa simples cidade de província.
Hoje, no coração da Capital, dei por mim, várias vezes, a desviar os olhos dos "profissionais do olhar", que se espalham por toda a parte. Espertos (eles e elas), oferecem-nos a expressão mais pungente que conhecem, na tentativa de nos "fazer doer", a ver se nos "espremem" e conseguem fazer cair uma moeda, ou até nota...
Fiquei a pensar que se não fosse "provinciano", se não tivesse a mania de olhar o outro, escapava a este jogo quase de "pantomina"...
O óleo é de Jean Paul Tibbles.
belissmo texto, retrato real que todos nós constatamos.
ResponderEliminarbeij
Todos nós, provincianos, passamos esse mau bocado!
ResponderEliminarEm Lisboa o meu olhar anda sempre à procura de janelas e varandas do 1º andar para cima! :-((
Abraço
gostei muito de assim ler o teu olhar, luís. um beijinho.
ResponderEliminarAdorei a expressão 'profissionais do olhar', ela encaixa-se perfeitamente.
ResponderEliminarAqui, em minha cidade, temos o mesmo problema, mas eu também sou uma provinciana...rs...felizmente.
Muito bom o texto!
Abraços,
é engraçado constatar os olhares da indiferença e também a tentativa forçada de nos derreter com o olhar, numa cidade grande como Lisboa.
ResponderEliminaronde há de tudo, não tivesse a rua dos fanqueiros, Piedade...
eu não, Rosa.
ResponderEliminaracho que deixo escapar muito o que se passa no ar...
que bom, Alice.
ResponderEliminarolá Elizabete.
ResponderEliminarbem vinda ao largo.
É bem verdade.
ResponderEliminarpois é, Laura...
ResponderEliminarvidas.
Imagino que não escoleu Tibbles por acaso.É um especialista do olhar. Sobretudo nos auto retratos, onde nos torna quase voyeurs.
ResponderEliminaré, George Sand.
ResponderEliminarEu também sou assim, gosto de olhar, e por vezes quando o faço perco-me e começo a divagar e às vezes dou por mim a olhar de forma insistente.
ResponderEliminarPor outro lado se me olham sinto-me constrangida e só me apetece tornar-me invisivel nesse momento.
Sobre os apelos à nossa misericordia e ao nosso lado benemérito é preciso distinguir o trigo do joio, e muitas vezes o que acontece é que nos habituamos e olhamos sem ver, e é um pouco indiferente, mas há quem realmente precise de ajuda, e às vezes nem é a pedir dinheiro.
pois, Anita, mas esses de que falas não são os "profissionais do olhar"
ResponderEliminareu percebo Luís.
ResponderEliminaré preciso é olhar
a propósito da desumanização que é experimentada com o embrutecimento que a própria cidade cria, diz Sophia de Mello Breyner Anderson, in Contos Exemplares:
“ Era um homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. (…) Era um céu alto, sem resposta, cor de frio. O homem levantou a cabeça no gesto de alguém que, tendo ultrapassado um limite, já nada tem para dar e se volta para fora procurando uma resposta: a sua cara escorria sofrimento. (…) A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver.”
sim, é por isso que não devemos desistir de olhar, apesar dos aproveitamentos, Maré.
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