Uma experiência pessoal curta, as conversas de café, as chamadas de atenção para este ou outro pormenor, como esta do Francisco, cujo hipotético exagero me parece muito menos surrealista que aquilo que se vive actualmente no "faiceboque".
A notória banalização daquilo que se pode chamar a nossa identidade pessoal, nem é o mais dramático. Nunca foi tão fácil deitarmos fora aquilo que não gostamos em nós. Até nos podemos dar ao luxo de "oferecer" um novo rosto e um novo corpo à "outra pessoa" que nos acompanha para todo o lado, vinte e quatro horas por dia. Além do "retrato" físico, também podemos melhorar o psicológico, pois continua a ser fácil misturar ficção com realidade, oferecendo "sonhos" aos "amigos" de ocasião, que queremos felizes e numerosos.
Faz bem ao amor próprio? Talvez. Não tenho conhecimentos assim tão profundos de psicologia para afirmar o que quer que seja neste campo.
Mais grave que esta banalização da identidade, é a mistura que se faz entre o que é privado e o que é público. Penso que esta "confusão" não é alheia ao que se passa hoje na comunicação social, em que vale quase tudo para conseguir uma notícia ou uma imagem, quase num clima de hiper-realismo.
Mas pior que os pormenores "intimistas" das suas vidas, são as imagens. Algumas pessoas expoem os seus familiares nas suas páginas pessoais, especialmente os filhos, através de fotografias, assim como os seus amigos.
É cada vez menos do outro mundo, andarmos por aí, dentro de fotografias que nem sabíamos que existiam, capazes de alimentar a vontade de "aparecer" e de ser popular, de alguém que nunca ultrapassou os fracassos do liceu.
E isso sim, incomoda-me, porque se entra na esfera privado do "outro"...
O óleo é de Georgy Kurasov.
Gostei desse "fracassos de liceu". E concordo. Inteiramente.
ResponderEliminarGostei imenso do seu texto. A verdade é que poucos se inibem de resguardar a sua imagem. Parece que é moda querer aparecer...
ResponderEliminarUm beijo, Luís.
Essa do facebook e outros do género é talvez sinónimo de uma grande solidão.
ResponderEliminarDeixou de existir tertulias, as pessoas aprendiam nas colectividades que frequentavam diariamente.
Ir ao cinema era uma festa. Agora é o cinema e os amigos que vem a casa em conversas on-line desprovidas de qualquer sentido.
Claro, neste mundo se solidão e de anonimato, o aparecer é sinal que existes.
Muita gente me critica por usar pseudónimos na internet. É uma escolha que tem prós e contras...é tudo um bocadinho novo ainda, para mim.
ResponderEliminarMas penso que esta "exposição púbica" de que fala, é absolutamente irreversível. É uma espécie de batalha perdida. Se não na nossa geraçao certamente na dos nossos filhos.
Podemos adiar...quando muito
fico em essa sensação.
ResponderEliminarembora cada um saiba de si, Helena.
é moda e sinal da futilidade destes tempos, Graça.
ResponderEliminarsim, Carlos, muita, muita solidão.
ResponderEliminarquase que não falamos uns com os outros.
então nas ruas, até temos medo de falar com alguém e sermos mal entendidos...
não sei se é uma batalha perdida, "George", esta exposição excessiva pode ditar contrários no futuro...
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