terça-feira, novembro 15, 2022

Algumas Singularidades de um Grande Escritor


Apesar de não ser o meu autor português preferido, sempre tive um grande respeito e admiração por José Saramago. Isso deve-se ao amor que sempre revelou pela liberdade, e também ao seu exemplo, de luta e de persistência, que foram fundamentais para que ele se transformasse num dos maiores criadores da língua portuguesa. 

E não menos importante, é o facto de Saramago nunca se ter esquecido de onde veio.

Não tenho dúvidas, de que são muito poucas as pessoas que têm a capacidade, não só de ultrapassar, mas também de colherem dividendos, das dificuldades e dos obstáculos que tiveram de enfrentar pela vida fora (na Cultura).

Vou só deixar aqui dois exemplos: o seu saneamento da direcção do "Diário de Notícias", depois do 25 de Novembro de 1975, e posterior desemprego, foram decisivos para a sua aposta na literatura a tempo inteiro e na sua afirmação como escritor; a forma como foi "maltratado" pelo governo do PSD, após a edição do seu livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (1995) foi determinante para a sua saída do País, escolhendo a ilha espanhola de Lanzarote com destino, onde "ganhou mais mundo", acabando por conquistar o nosso único "Prémio Nobel da Literatura", em 1998. 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


4 comentários:

  1. Não esqueceu de nos dizer, em «As Pequenas Memórias», as dificuldades várias por que passou.Viveu com os pais sempre em partes de casa em ruas de bairros pobres da cidade. Não poucas vezes ocupou lugar na fila na sopa dos pobres frente à Igreja dos Anjos, ainda existe. Chegado o tempo quente, a mãe levava os cobertores à casa de penhores. Quando num final de tarde de Inverno de Novembro de 1966, nos escaparates da Livraria Portugal, folheei «Os Poemas Possíveis» deparei-me com um escritor de que nunca ouvira falar, e os versos de um poema marcaram-me: «Outros porão em verso outras razões/quem sabe se mais úteis e urgentes/aqui direi que busco a só maneira/de todo me encontrar numa certeza/leve nisso ou não leve a vida inteira/assim como rói as unhas rentes.»
    Ganhei um autor para a vida e logo que um livro ia saindo, ainda, e durante muito tempo, desconhecido, logo o comprava.
    Prestes a sair (1971) da Estudios Cor, escreveu numa carta a José Rodrigues Migueis: «Se no dia em que daqui sair não tiver ainda outro emprego, começo o ano da estaca zero, completamente desprovido. Mas continuo a ter uma grande consideração por mim mesmo».
    Sempre assim foi o autor que descobri num final de tarde de Inverno.
    Como um dia ele também disse: «Aquilo que tiver que ser meu às mãos me há-de vir ter».

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  2. Não me canso de dizer: JOSÉ SARAMAGO (para mim) o maior escritor português depois de Camões (e digo depois só para não ferir susceptibilidades).

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    1. Tenho sempre dificuldades em falar em "melhor" disto ou daquilo, Saramago, porque depende sempre do nosso gosto e das afinidades que sentimos.

      Sem andar muito para trás encontro três escritores que acho superiores: Cardoso Pires, Vergílio Ferreira e Aquilino Ribeiro.

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