quarta-feira, novembro 02, 2022

Somos Mais Livres mas Vivemos Mais Perdidos...


As mudanças na sociedade, deixam sempre marcas, positivas e negativas. O verso traz sempre atrás de si o reverso, como se a perfeição continuasse a ser uma utopia...

É por estas e por outras, que a democracia começa a perder adeptos, aqui e ali. Evita-se falar de Salazar, embora comece a existir alguma unanimidade (dos historiadores do lado direito...) de que nunca fomos um país fascista. Um dos argumentos, é que se "matou, prendeu e torturou pouco". Outro, é de que não éramos obrigados a fazer parte das instituições fascistas criadas nos anos trinta (Mocidade, Legião...), o que é mentira. Havia represálias para quem se recusasse a fazer parte destas e doutras instituições, que apelavam a um patriotismo quase cego. 

Uma amiga que está a fazer uma tese de doutoramento sobre a o que mudou entre nós, com a perda de influência da trilogia "Deus, Pátria e Famílía", fez-me uma entrevista, queria saber o que eu pensava sobre o assunto.

Disse muitas coisas, andei por vários lugares. E no fim disse: "Hoje somos mais livres mas vivemos mais perdidos."

Andámos quase em todo lado. Foi uma boa viagem. É por isso que prometo escrever sobre algumas das coisas que falámos, durante a semana.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal) 


9 comentários:

  1. Todo o mundo é feito de mudança, umas boas, outras nem por isso!

    Abraço

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    1. É mesmo Rosa.

      É pena repetirmos tantos erros, e a facto de "errar ser humano" não explica o que se passa no mundo...

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  2. Estou inclinada a concordar com o título no que diz respeito a Portugal , pois o Luis a ele se estava a referir.
    Há outros países onde a população se sente assim... outros, como o Canadá, onde ainda não temos essa perceção. : )

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    1. Quando disse essa frase, foi porque se tem desvalorizado muito o papel de várias instituições, cujo "poder" estava assentes em silêncios e mentiras, Catarina.

      O desejo de nos libertarmos, foi deixando marcas...

      E eram e são instituições com grande peso social. Inclusive a própria família.

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  3. «comece a existir alguma unanimidade (dos historiadores do lado direito...) de que nunca fomos um país fascista»

    Ainda se fosse apenas pedantismo por parte dos tais historiadores ...

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  4. Não me admira que esses historiadores queiram "limpar" a história das atrocidades do fascismo.
    Eles acreditam que nós não temos memória.
    Abraço e saúde

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    1. A mim também não, Elvira.

      Fingem que não éramos um país de partido único, que silenciava, prendia e torturava quem tinha ideias diferentes, através da acção de uma polícia secreta e da censura...

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  5. Penso que uma das diferenças do fascismo português é que, em termos relativos, excluiu mais do que arregimentou à força e submeteu pela violência. Deixou de parte uma boa parte da população sem acesso à educação, aos cuidados de saúde e a uma alimentação adequada. Uma das razões é uma nítida diferença de escala: nos tempos áureos dos fascismos italiano e alemão, Portugal tinha uma indústria incipiente. Se tens um Estado fascista à cabeça de um grande complexo militar e industrial, ao mesmo tempo que a tua burguesia tem dificuldade em obter mais valias, é claro que vais querer submeter violentamente uma enorme população operária. Esta era, em termos relativos, menos importante em Portugal daí os níveis de violência e de opressão serem comparativamente brandos. Mas inegavelmente violentos, em todo o caso. As diferenças foram de ordem contingente e não essencial. Em Portugal, dava para ter um ar mais aristocrático, menos populista. Mesmo assim, ao nível da simbologia havia muitas semelhanças e a admiração confessa de Salazar por Mussolini é conhecida. Os objectivos eram os mesmos: reprimir a capacidade reinvindicativa das classes trabalhadores para mimar e aconchegar a alta burguesia.

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    1. Em certa medida, foi isso, Miguel.

      Aproveitaram-se da ignorância e da falta de exigência (ou da brandura) das pessoas.

      Como ainda vivíamos segundo a estrutura dos regimes feudais (especialmente nas aldeias...), tudo foi mais fácil.

      Mas daí a dizer-se que não tivemos uma ditadura ou que não vivemos no fascismo...

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