terça-feira, setembro 13, 2022

As Vindimas: Memórias sem Retratos...


Com a queda destas primeiras chuvas, neste Setembro que já vai a meio, lembrei-me das vindimas, que fizeram parte integrante da minha meninice, adolescência e começo de idade adulta.

Tudo o que faz parte deste trabalho agrícola colectivo continua a ser uma boa memória para mim, até mesmo as viagens acidentadas na direcção do Vale da Moira e do Arneiro. Sim, as vinhas do avô ficavam em locais cujos acessos eram extremamente complicados, pelo desnível e pelo mau estado daqueles caminhos. 

A vinha cujo trajecto era mais difícil ficava no Vale da Moira. Depois de sairmos da estrada principal, que ligava as Caldas a Santa Catarina, ainda antes das Trabalhias, apanhávamos um caminho plano e calmo. As coias só se complicavam quando chegámos a uma "linha de água" que fazia parte do caminho e  com o cheiro a Inverno se transformava num autêntico pantanal, ao ponto da parelha de bois e o carro ficarem com as patas e as rodas soterradas. O avô fazia o papel de um "picador" das touradas, usando a vara que tinha na ponta um bico afiado no lombo dos dois animais e fazia com que eles não ficassem imobilizados naquele terreno movediço. O pai e os tios ajudavam no que podiam, eu e o meu irmão víamos aquele "filme" de camarote... Aquela luta quase titânica durava três quatro minutos intermináveis. Mas o pior ainda estava para vir, quando o carro descesse até ao Vale, com a tina carregada de uvas...

Felizmente nunca aconteceu nenhum acidente, embora por vezes se perdesse uma ou outra bota no meio daquele lamaçal.

Lá estou eu a alongar-me nas minhas deambulações pela memória, quando apenas queria dizer que não existe nenhum registo fotográfico destas aventuras. Se fosse hoje sei que não perdia a oportunidade de fotografar toda esta viagem, assim como o ambiente festivo das vindimas...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


10 comentários:

  1. Nunca vindimei nem assisti a nenhuma atividade associada às vindimas. Mas gostaria de ter tido essa experiência.

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    1. É uma actividade muito solta, as pessoas trabalham e cantam, contam anedotas, Catarina.

      Ou pelo menos era, quando era feita em roda de amigos.

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  2. Também eu tenho memórias sem fotos das vindimas do meu avô paterno, só que sem essa odisseia por caminhos difíceis.

    Abraço

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    1. Estas aventuras ainda fazem um filme melhor, Rosa. :)

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  3. A fotografia nem sempre presta testemunho exclusivo. Depende do fotógrafo e do "dia".
    O seu relato já a dispensa.
    Conheci os trabalhos no campo.

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    1. Pois não, José.

      Mas hoje seria impossível não deixar um rasto, até por os telemóveis também serem máquinas fotográficas.

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  4. Bom dia
    Embora a minha zona não seja propriamente conhecida pelas vindimas, também se fazia mas em menor escala , e como tenho boas recordações dessa altura não pude deixar de apreciar este texto e me lembrar as canções que cantava enquanto vindimava e no pisar das uvas
    " americanas "
    Infelizmente também sem fotos .

    JR

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    1. Sim, é verdade, ainda havia o lagar, pisar as uvas e fazer o vinho, com o avô a medir os graus, Joaquim. :)

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  5. Belíssimas memórias de outros tempos.
    Abraço e saúde

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    1. É verdade, Elvira. Cresci com as vindimas. :)

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