terça-feira, setembro 20, 2022

Os Poetas e a Poesia Metem-nos nos Olhos Coisas que nem Sempre Queremos Ver...


Sempre percebi que António Costa era um sabidão. É mesmo um caso único. Foi ministro da Justiça e da Administração Interna (com Guterres e Sócrates), e mesmo assim, conseguiu sair do "pântano" e do "marquês", sem qualquer mossa, chegando a primeiro-ministro, com uma esperteza quase saloia, criando a "geringonça" para poder "passar a perna" ao PSD, que tinha ganho as eleições. 

Mesmo sabendo que teve de governar com a "geringonça" e de enfrentar a pandemia e a guerra na Ucrânia, tem passado uma boa parte da sua governação a fingir que resolve problemas e que apoia, sem de facto apoiar. O mais relevante da sua governação é a capacidade de "chutar para canto" e de  criar e alimentar "bolas de neve", cada vez mais gigantescas. A Saúde e Educação são dois bons exemplos, para mal dos nossos pecados...

Como escrevi no título, os Poetas e a Poesia metem-nos nos olhos coisas que nem sempre queremos ver. Estou a ler a nossa Sophia, para mim a Rainha dos Poetas. E é pelo Costa e companhia (existem em praticamente todos os partidos...), que transcrevo o começo do poema "Nesta Hora" (escrito logo a 20 de Maio de 1974, quando os oportunistas surgiam em todas as esquinas e em todos os grupos partidários), do livro "O Nome das Coisas":


Nesta Hora

Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida

O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados

Não basta gritar povo é preciso expor
Partir de olhar da mão e da razão
partir da limpidez do elementar
[...]


Sophia de Mello Breyner Andresen



(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


8 comentários:

  1. Boa tarde
    As mentiras dos poetas são mais bem fáceis de assimilar que as dos políticos e não deixam males no orçamento.
    JR

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  2. A Sophia disse sempre as palavras certas quando foi preciso dizê-las...
    Tudo de bom, meu Amigo Luís.
    Um abraço.

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    1. É verdade, Graça.

      Nunca teve medo de nenhuma palavra. Nem de mostrar a sua indignação perante o mundo.

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  3. Passar a perna é algo em que António Costa, mesmo sem mestrado, se especializou para tirar doces frutos para vida actual e futura.
    Passou a perna a António José Seguro, passou a perna à geringonça e anda há longo tempo a lixarnos a vida, com sorrisos e outros adereços.
    Tout va très bien, Madame la Marquise.
    Sem conhecimento directo de causa, dirá que António Costa herdou muitos «pormenores» de sua mãe, nunca de seu pai, o escritor Orlando Costa.

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    1. É verdade, Sammy.

      Deve ter histórias do arco da velha, desde que era jotinha, a "tirar tapetes".

      Grande escadote que usou, com habilidade, sem cair ou ficar pelo caminho, ao longo de quase 40 anos...

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  4. E tantos que eu já conheci (e conheço) que da verdade nem metade diz.
    E o resto vai jogando com habilidade e eu a fazer-me de parvo, e ele fazendo-me igualmente parvo...

    .

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    1. Não há grande escolha, mas há mesmo quem diga que para se ser um bom político, tem de se ser um bom mentiroso, Severino.

      Continuo com dúvidas.

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