A entrada na União Europeia, em 1986, virou o país de pernas para o ar. Ainda tivemos a agravante de ter como primeiro-ministro, um tecnocrata, que "vendeu" (e destruiu...) a base da nossa economia (mesmo que fosse demasiado artesanal), a troco de muitos milhões e da tal "modernidade", que chegou de facto, mas a muitos lugares errados, e talvez rápida demais, ao ponto de, de um dia para o outro, começarmos quase todos a pensar que éramos ricos...
A indústria, a agricultura e as pescas foram reduzidas ao mínimo (com esta coisa incrível de se dar dinheiro aos agricultores e aos pescadores, para não cultivarem os campos e para não irem para o mar...). Construíram-se autoestradas de Norte a Sul, banalizando - e abandonando - o transporte ferroviário, que para mim sempre foi o melhor transporte do mundo.
Mas vamos lá à frase de João de Melo, que já tem mais de trinta anos ("J. Letras", 3 de Março, 1992):
«Há hoje em Portugal, uma geração que corre o risco de não ser. Assiste-lhe a ilusão de uma triunfalismo fácil, de uma rasura despudorada dos valores éticos e de uma militância pela cultura e joga para cima da mesa os valores do lucro fácil, da colagem ao que dá dinheiro e conforto. Portanto, a ideia de cultura está em perda tal como o conhecimento, porque a experiência é muito frágil nessa nova geração. É um juízo inquieto aquele que faço. Mas manda-me a minha experiência que seja prudente e dê tempo ao tempo.»
João de Melo, apesar da sua prudência, estava certo. Depois de termos desperdiçado milhões e milhões, continuamos a ser o portugalzinho de sempre... As calças podem já não ter remendos, mas na nossa alma, não deve haver restar nenhum espaço que não tenha já sido remendado...
(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)
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