Ultimamente quando ando de táxi, apanho sempre condutores "passadistas", a tentar puxar a conversa para a saudade que sentem de Salazar.
A maior parte deles nem sabe bem o que está a dizer, provavelmente por terem a memória curta demais.
Evito sempre entrar nos seus argumentos do "dantes é que era bom", porque sei que não passa de uma patranha. O último taxista que apanhei até tinha saudades das aldeias sem elctricidade e água canalizada. E não tinha um ar nada bucólico. Até foi capaz de dizer que éramos pobrezinhos mas não devíamos nada a ninguém.
Só sorri quando ele disse que nesse tempo até a gasolina e o gasóleo eram vendidos a um preço decente.
As crises encerram vários perigos, um dos mais perigosos é serem capazes de transformar qualquer "filho da puta" numa pessoa de bem, para as pessoas mais distraídas.
Adenda: Outro aspecto curioso, que só pensei nele depois, é que este homem rondava os sessenta anos. Ou seja, pertencia à geração que mais sentiu os efeito da guerra das colónias, para onde eram "empurrados" uma boa parte dos jovens, para defenderem a pátria...
O óleo é de Francesco Capello.
Luís, a regra – esta não sei se contempla excepções - é que quem está no poder é sempre péssimo. Mas quando deixa o poder, começa logo a ser recordado com saudade, porque o que lhe sucede passa a ser o péssimo ou ainda pior. Isto acontece nas famílias, nas empresas, nos países e há-de acontecer, em devido tempo, nos planetas e nas galáxias. ;-D
ResponderEliminarConcordo com o que escreve a Luísa. Mas só é assim porque somos um país sem memória! Não somos capazes de acumular as experências do passado e reflectir sobre elas!
ResponderEliminarSe calhar é por isso que não conseguimos caminhar adiante.
"As crises encerram vários perigos, um dos mais perigosos é serem capazes de transformar qualquer "filho da puta" numa pessoa de bem, para as pessoas mais distraídas." Concordo. E é mesmo um perigo grande...
ResponderEliminarUm beijo, Luís.
infelizmente para nós, não temo saído do péssimo, não há grandes notas de recordações sobre os nossos governantes, Luisa.
ResponderEliminaro que me chateia mais é o "branqueamento" que se faz da própria história.
é isso mesmo, Miguel.
ResponderEliminarpor isso é que os escritos do Eça, do Ramalho ou do Junqueiro, nos parecem tão actuais.
esse é o maior perigo dos nossos dias, povoados de "máquinas de lavar" por tudo o que é sitio, Graça.
ResponderEliminarO pior é que não são só os taxistas que pensam assim. Estamos numa fase política muito perigosa, muito perigosa, mesmo!
ResponderEliminarNão será também assim porque no tempo de que se diz ter saudade, se era jovem, ou mais jovem, com outra capacidade, força e optimismo, que depois se perdeu com a idade?
ResponderEliminarÉ o velho e cristão costume de "todos viram santos depois de mortos". Além disso, meu pai tem 75, teve um irmão mais velho que serviu em Angola e muito cedo decidiu que não ia pelo mesmo caminho, nem ficaria na terra, onde não havia mobilidade social alguma e um filho de barbeiro sê-lo-ia até morrer e nunca mandaria os próprios filhos à universidade. Aos 17 anos, ele apanhou um navio para o Brasil. Depois, foi muito duro e ele já me disse que se pudesse voltar atrás não faria do mesmo jeito, mas sabe que nós não teríamos a menor chance de ser o que somos hoje se ele tivesse ficado.
ResponderEliminarEntão, esses passadistas, além de má memória não têm visão de conjunto nenhuma e não são capazes de avaliar para além do próprio umbigo e das suas quotidianas necessidades comezinhas.
Quando vi o título eu sabia que o conteúdo era por aí afora, e tu não me decepcionaste, como sempre. ;)
Beijo amigo,
pois não, Carol, o país está cheio de gente de memória curta...
ResponderEliminarnão sei, Redonda, mas espero nunca ser "assim", mesmo quando estiver corroido pelos anos...
ResponderEliminaré tudo gente de memória curta e muito "pobrezinhos" de espirito, Lóri.
ResponderEliminaré a explicação para que votem sempre nos mesmos aldrabões, que não têm feito outra coisa, senão servirem-se do poder que têm para proveito próprio.