sábado, maio 23, 2020

Uma Vida Quase Normal...


Antes de aparecer por aqui (e ali...) um "malvado", que nos roubou uma série de prazeres colectivos, como era o beber café à mesa, com tempo para conversar... ou o "luxo" de prolongar o almoço por três horas, não pelo prazer da comida, mas sim da companhia... A vida era quase normal.

Depois de escrever sobre teatro, lembrei-me que tenho falado ao telefone com um dos amigos com quem almoçava semanalmente, que é actor - amador - quase desde que se conhece, e que só não deu o "salto para o outro lado" por que se apaixonou ainda na adolescência pela mulher da sua vida. E um bom casamento e um bom emprego revelaram-se mais importantes que a incerteza da vida nos palcos...

Mas o amor ao teatro continuou sempre lá. Ele gosta tanto de representar, que o seu lado cénico aparece quase sempre no meio das conversas (às vezes em momentos-chave para desanuviar alguns excessos verbais...), com palavras, sorrisos e meneios do corpo... Isso acontece sempre de uma forma natural, como se o "actor" também quisesse almoçar connosco.

Por vezes fico com a sensação de que ele não tem a noção da sua qualidade artística, tal é a sua simplicidade humana. Mesmo que ele seja das raras pessoas que basta subir ao palco (mesmo sem dizer nada...) para conseguir "ofuscar" todos aqueles que já lá estão, debaixo dos holofotes.

Já lhe perguntei se ele não se arrepende de nunca ter aceitado um ou outro convite para "representar a sério" (uma coisa que ele sempre fez...). Ele diz-me que não. Sempre se sentiu feliz em ter uma vida quase normal...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

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