Hoje bebi um café com um amigo que faz teatro. Não estava à espera de o encontrar tão desanimado. Embora seja ligeiramente mais novo que eu, já passou a barreira dos cinquenta e há pelo menos dez anos que, lhe dizem que é velho demais para mudar de profissão. Mas ele acha que é desta que tem de pensar em fazer outra coisa qualquer...
A nossa conversa foi quase um monólogo. Percebi que precisava muito de desabafar com alguém e eu também não tinha respostas nem soluções para o drama que está a viver. Voltou para a casa dos pais, porque o senhorio nem sequer quis ouvir falar das "suas dores", embora também não tivesse grandes argumentos, pois, não sabe quando é que volta a ter ordenado (está a receber um apoio inferior ao ordenado mínimo... apoio esse que pode ter de ser reduzido se continuarem parados)...
Nos últimos anos a companhia onde trabalha funciona quase como um circo. Além de actores, são também cenógrafos, técnicos de som, técnicos de luzes, bilheteiros, arrumadores, funcionários de limpeza, e tudo o mais que seja necessário, para que o espectáculo comece à hora marcada, e possa trazer para casa o ordenado que não chega aos mil euros...
Gostava que o teatro fosse capaz de sobreviver diariamente sem subsídios, mas não tem grandes ilusões. Sabe que só o chamado teatro comercial - mais alegre, mais primário e de melhor "digestão" -, consegue encher plateias.
Continua a defender que o abc do teatro tem de começar logo na escola primária, para que se perceba bem cedo qual é a sua função social. Mas sabe que isso será muito difícil de acontecer, porque os políticos, tanto à esquerda como à direita, preferem enfrentar no seu dia-a-dia "carneiros" a "seres pensantes".
O seu último desabafo foi o mais marcante: «Talvez o melhor seja mesmo acabarem com o Teatro.»
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
Como compreendo o grito de revolta deste seu amigo.
ResponderEliminarUm grito necessário, um pontapé não sabe bem em quê, mas um pontapé forte e colocado.
E ele, bem do fundo da teima dos ossos, sabe que o Teatro não vai acabar nunca.
Quando um senhorio analfabeto, sacripanta, filho sabemos todos bem de quem, correu com a ««Barraca» do espaço que tinham na Alexandre Herculano, a Maria do Céu Guerra lembrou-se de um poema da Sophia Mello Breyner Andresen no seu «Livro Sexto»:
«Pranto pelo Dia de Hoje»
« Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas».
Abraço.
A Cultura tem sido tão maltratada no nosso país, Sammy.
EliminarTudo o que se está a passar é apenas mais um reflexo da desvalorização do papel da Cultura na nossa sociedade...
Sempre tenho dito isso mesmo. Aos governos não interessa um povo culto. Porque quanto menos o é, mais fácil é dominá-lo.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Pois não,. Elvira.
EliminarGostam mais de gente "telecomandada"...