segunda-feira, maio 25, 2020

«Os portugueses não gostam de Cultura»


Como os leitores do blogue já perceberam, ando às voltas com a Cultura, há uma série de dias, aqui no "Largo".

E vou continuar, porque me apetece recuperar uma conversa que teve lugar em 2014, com um amigo que nos deixou hoje, mas que poderia acontecer nos nossos dias.

A páginas tantas, Fernando, desanimado pela fraca aderência das pessoas a algumas actividades culturais desenvolvidas por nós, teve o desabafo: «os portugueses não gostam de cultura». 

Eu lembro-me de tentar desmontar esta frase a dizer que não era apenas uma questão de gosto, mas também de educação. Se os portugueses nunca foram educados a ter um conhecimento profundo do significado da palavra cultura, ou do mundo das artes e letras, seria difícil "saber", "conhecer" e... "gostar" de Cultura. 

Mas havia mais qualquer coisa para além da "educação". Foi por isso que acabámos por virar a conversa para o "não gostar de pensar". E aí estivemos inteiramente de acordo. Percebíamos à légua que "exercitar dos neurónios", estava longe de ser a actividade preferida dos portugueses...  Ele com o seu espírito brincalhão, acrescentou que, se pertencêssemos a um rebanho éramos as suas "ovelhas negras"...

O "covid" roubou-nos pelo menos dois ou três almoços prolongados pela tarde dentro, onde pela certa teríamos falado, entre outras coisas, da actual ministra da Cultura, que tem cometido erros atrás de erros, na forma de distribuir apoios à cultura...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

6 comentários:

  1. Os meus sentimentos pela perda do seu amigo.
    Desde que me lembro não tenho ideia de um ministro/a da Cultura que fizesse alguma coisa de jeito em relação à pasta que desempenha. Ou por incompetência ou por falta de interesse, porque aos governos não agrada muito o desenvolvimento da cultura dos povos. Um povo sem cultura é muito mais fácil de enganar e o perigo de revolta é quase nulo.
    Abraço, saúde e boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. (era uma excelente pessoa...)

      Penso que só o Carrilho, por ter uma personalidade forte, tentou fazer alguma coisa, Elvira...

      De resto, escolhem sempre alguém que não "crie problemas" (a eles, políticos).

      Eliminar
  2. Estou totalmente de acordo!
    É que à industria cultural não interessa muito a cultura em si, mas os fins lucrativos, eu vejo que é tudo muito comercial!
    Eu vou ser sincera, como gosto de artesanato e vivo nos Açores, gosto de ver aqueles programas de fim de semana, como o Aqui Portugal, pois às vezes vejo trabalhos lindíssimos e interessantes dos artesãos portugueses, mas há duas coisas que me aborrecem e me fazem desistir, as palavras excessivas apelando os telefonemas para os prémio e outra são aquelas musiquinhas que não consigo ouvir e fico espantada com tantos artistas e musicas do género!
    Penso, o que é feito da música portuguesa? É tudo muito comercial, penso que a cultura pela cultura está em decadência!
    Não há educação para a cultura e o sistema não ajuda! Eu sinto dificuldade em educar a minha filha! Na altura da "casa dos segredos" a minha filha era a única que não via da turma dela, queixava-se que ficava fora das conversas por não saber comentar! Se eu falo mal de certas músicas, com frases repetidas que a meu ver faz parte desta alienação, ela não faz caso de mim, é o que todos ouvem! É tudo um nheco nheco, a Blaya com aquela musica que parece que amar o marido e ter um amante que faz gostoso é normal. Está tudo muito vulgar e há uma grande deseducação e torna cada vez mais difícil a função de educar.

    A preguiça de pensar a meu ver, está a ser estimulada por estas musicas com poucas frases e muitas repetições, entre outras coisas, claro!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A cultura, tal como o desporto, existem no nosso país, muito graças ao associativismo (que infelizmente tem cada vez mais dificuldades em sobreviver...).

      O poder político normalmente preocupa-se mais com os "amigos", com o que pode dar votos, que em ter uma política cultural coerente e válida para o país, Micaela.

      Eliminar
  3. Subscrevo mas também temos uma grande parte da população sem as necessidades básicas satisfeitas.
    E piorámos muito com esta pandemia.

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma coisa não tem a ver com outra, Rosa.

      Pode existir uma política cultural que olhe para a cultura com olhos de ver (sem megalomanias e sem clientelismos), com os mesmos custos.

      Eliminar