«A cidade já não estava tão deserta, via-se gente em quase todas as ruas, umas com máscaras outras não. A distanciação era uma marca deste tempo. Percebia-se que as pessoas que circulavam em grupo eram famílias ou grupos de amigos, estrangeiros, que deveriam viver em comunidade.
Eu continuava a circular sem máscara (estava no bolso, com o pequenito frasquito com álcool...), mas guardando mais que a distância recomendada, dos outros.
Quando passei próximo da florista reparei que um homem com quem me cruzei, olhava de uma forma fixa para mim. Estava de máscara, e coisa estranha, percebi que me sorria.
Alguns metros mais à frente consegui colar um rosto aquele "mascarado". Era o Artur "Mãos Limpas", que trabalhou na secretaria de um jornal para o qual colaborei. Nesse tempo (há uns bons vinte anos...) ele tinha características únicas. Além de passar a vida na casa de banho a lavar as mãos, mantinha alguma distância dos outros, sempre que podia, penso que fazia isso sobretudo por uma questão de "higiene mental". E tinha sempre no bolso, um pequeno frasco de álcool, uma grande ajuda para quem se sentia "obrigado" a viver num mundo repleto de "nódoas", entre outras imundices.
Talvez aquele seu sorriso fosse de quase vitória. Talvez me quisesse dizer, que agora todos tinham de fazer o que ele sempre fizera. Finalmente acreditavam nas pragas de "vírus" que vivem a nosso lado. Nunca deve ter pensado é que seria a China a transformá-lo numa "pessoa normal".
E logo ele, que nunca entrou em nenhuma dessas lojas de bugigangas baratas de usar e deitar fora...»
E logo ele, que nunca entrou em nenhuma dessas lojas de bugigangas baratas de usar e deitar fora...»
Microconto escrito ontem, no começo da noite, apenas porque sim... e claro, o Artur "Mãos Limpas" não passa de uma personagem...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Pensei que ele real, talvez exista alguém assim
ResponderEliminarDeve existir, a realidade costuma suplantar a ficção, Gábi. :)
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