sábado, dezembro 11, 2010

De Vez em Quando Acontece o Impossível

Eu sei, de vez enquanto acontece o que achamos impossível. Pelo menos dentro da nossa cabeça.

Jamais pensara que a senhora com idade para ser minha mãe, que olhava muito para mim como se me estudasse, tivesse conhecido o meu pai. Só à terceira vez que nos cruzámos teve coragem para meter conversa comigo.

No início procurei não acreditar no que ela me contou. Mas depois tive de me render à evidência. Falou exactamente nos lugares por onde ele passou, enquanto viveu na Capital.

Não percebi como me reconheceu, foi por isso que lhe disse que éramos diferentes fisicamente. Ela respondeu-me de uma forma quase enigmática, dizendo que coçava a cabeça e fazia um movimento com a cabeça, que ele também fazia, olhava o chão e depois o céu, num único movimento, lento, esquecido dos outros.

Achei aquilo tão estranho. Há coisas que só os outros conseguem ver...

Depois confirmou-me o seu nome e também o do meu tio, que viveu com o pai naqueles tempos, antes dele viajar para o Oeste, apenas com bilhete de ida e onde descobriu a minha mãe.

Quis saber do pai, disse-lhe que já tinha partido há nove anos.

Ela depois de me pedir desculpa pelo indiscrição, respondeu-me que a imagem que guardara dele, era a de um homem bonito e atraente.

Abanei a cabeça, afirmativamente. As fotografias da época não enganam.

O mais curioso é que não nos voltámos a encontrar.

O mundo tanto pode ser pequeno como grande...


O óleo é de Ivo Petrov.

10 comentários:

  1. :)))
    Parece que (quase) tudo é possível, Luís.

    Beijinho.

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  2. Há parecenças que nós não vemos – mais interessados, às vezes, nos traços distintivos – mas que para os outros são absolutamente reveladoras, Luís. Pormenores inesperados: uma entoação de voz, uma forma de rir… :-)

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  3. Luís, estas vivências fazem parte do nosso palimpsesto.

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  4. O mundo é grande, mas muitas vezes é pequeno.Às vezes até parece que moramos todos numa aldeia.
    E nada acontece por acaso, pelo menos eu acredito nisso.

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  5. claro que houve de certeza outra razão para a senhora se aproximar, o meu apelido, que não é assim tão comum como isso, Maria.

    mas foi uma novidade autêntica, daquelas que nos deixam sem saber o que dizer.

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  6. eu sei, Luisa.

    também já fui confundido com o meu irmão e aparentemente somos diferentes. mas depois vêm os tiques, a forma de sorrir, etc...

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  7. são a prova de que tudo pode acontecer, Helena...

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  8. é isso mesmo, Anita.

    o mundo estica e encolhe, tanto moramos numa aldeia como em países distantes...

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  9. Alguma antiga namorada... Acho tão bonito! Tão romântico!

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  10. quando se conhece as pessoas nesses pequenos gestos singulares, é quando se conhece o interior e o avesso :) um grande beijinho, luís*

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