Não sei muito bem porque entrei naquele lugar. Sei apenas que não foi a primeira vez que me deixei levar por um dos lados errados da noite.
Dois minutos antes vi passar um táxi vazio com o condutor à janela com um sorriso convidativo. Disse que pagava a bandeirada mas ninguém me ligou, preferiam o regresso a casa de cacilheiro e não pela ponte...
Os meus amigos acabaram por entrar e eu fui atrás, mesmo sabendo que a curiosidade já tinha matado um gato ou dois.
De início até achei piada à música psicadélica e ao jogo de luzes que nos transportava para um daqueles filmes do futuro, da família do "Blade Runner", assim como as personagens que se cruzavam connosco, também elas cinéfilas.
Os meus dois companheiros de aventura deixaram-se levar para um dos cantos, quase escuro, onde se ofereciam sonhos caros, daqueles que escondiam pesadelos e deixaram-me por ali, entregue ao acaso.
Fiquei encostado ao balcão, com uma cerveja nas mãos, armado em "pobrezinho da noite", evitando aspirar as nuvens ilusórias que se formavam em cima das mesas.
Uma rapariga saiu do meio da multidão e aproximou-se de mim. Não perdeu muito tempo, dois dedos de conversa depois prometeu-me uma viagem para a terra dos sonhos. Sorri-lhe e disse que não. fingi que estava bem assim.
Percebi uma vez mais o quanto horrível pode ser a lucidez...
Claro que não lhe disse que estava virgem e assim queria ficar pela vida fora.
Mas "pó" não, obrigado. Pó já tinha que chegasse nos poucos móveis da minha casa com "olhos" para o Tejo...
O óleo é de Liana Benett.
dois...
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