O frio destes dias fez com que me recordasse os começos da manhã em que me acordavas, ao entrares na cama, à procura do meu calor, depois de uma noite de trabalho.
O mais curioso é que nem os teus turnos faziam com que andávamos desencontrados. Conseguíamos fazer quase tudo com uma perna às costas. Íamos ao cinema, ao teatro, jantar fora, a concertos de música, num tempo de descobertas, em que a vida felizmente andava bastante mais devagar...
Partilhámos aquele velho segundo andar, quase com paredes de papelão, com vizinhos bem mais velhos que nos olhavam como se fossemos marcianos. Nunca percebi se invejavam ou odiavam o nosso amor, que nas horas boas era capaz de abanar o prédio. Sei apenas que raramente nos olhavam de frente.
Mas não nos aquecíamos apenas na cama, a sala também tinha uma lareira, que à distância de duas décadas, permite-me afirmar que substituía com vantagens o ar condicionado ou os aquecedores (que não tínhamos), travando muito bem o fumo, não permitindo que a casa cheirasse a "cigano".
Outras vezes chegavas e eu acordava quando abrias a porta. Adorava ficar a ver-te despires a tua roupa, que colocavas direitinha na cadeira, antes de entrares na cama e esqueceres que o Inverno estava ali, a dois passos de nós.
Éramos tão jovens, tínhamos o tempo quase todo para nós e, mesmo sem ter a certeza, parece-me que vivíamos felizes...
O óleo é de David G, Baker.
Fizeste-me sorrir. Lembrei-me de como era há 20 anos. E há 30...
ResponderEliminarProsa bonita!
Beijinho, Luís.
Os mais jovens têm uma outra forma de vivenciar e sentir as mesmas experiências que os mais velhos. Não sei se melhor, pior ou simplesmente diferente.
ResponderEliminarUma das camadas mais belas do nosso palimpsesto.
ResponderEliminarque bonito Luis...no hay cosas mas lindas que las que se escriben con el sentimiento de haberlas vivido.
ResponderEliminarbeijokas
Ninguém nos pode tirar o que vivemos!
ResponderEliminarTerna, romântica mas também realista evocação!
Gostei deste teu registo tão diferente do habitual... :-))
Abraço
Gosto de tudo, neste post:
ResponderEliminarDo reconforto de dois corpos que se reencontram dentro duma cama, do sentimento que vence barreiras horárias (e outras), do calor que abana o prédio mas também pode emanar da lareira, do estilo de escrita.
Fabuloso!
Um beijo.
ainda bem que gostaste e que te fiz sorrir, Maria...
ResponderEliminartodos fomos jovens, numa altura da nossa vida, Catarina.
ResponderEliminaré o chamado ciclo da vida...
sim, Helena.
ResponderEliminarque seria de nós sem memórias?
gracias, Momo.
ResponderEliminaràs vezes vou mais longe, Rosa...
ResponderEliminarainda bem que gostaste.
(não vale fazer o autor babar-se e pensar que é "muita bom", Filoxera...)
ResponderEliminare ainda bem que gostaste.
gostei de ler, e sem querer também me revivi neste belissimo tetxo.
ResponderEliminarbeij
a vida de cada um de nós nem é assim tão diferente, Piedade...
ResponderEliminarainda bem que gostaste.
Muito bonito o óleo e o texto.
ResponderEliminarGostei muito.
beijinho
muito, muito?
ResponderEliminartanto, Gáby?