Eu sei, de vez enquanto acontece o que achamos impossível. Pelo menos dentro da nossa cabeça.
Jamais pensara que a senhora com idade para ser minha mãe, que olhava muito para mim como se me estudasse, tivesse conhecido o meu pai. Só à terceira vez que nos cruzámos teve coragem para meter conversa comigo.
No início procurei não acreditar no que ela me contou. Mas depois tive de me render à evidência. Falou exactamente nos lugares por onde ele passou, enquanto viveu na Capital.
Não percebi como me reconheceu, foi por isso que lhe disse que éramos diferentes fisicamente. Ela respondeu-me de uma forma quase enigmática, dizendo que coçava a cabeça e fazia um movimento com a cabeça, que ele também fazia, olhava o chão e depois o céu, num único movimento, lento, esquecido dos outros.
Achei aquilo tão estranho. Há coisas que só os outros conseguem ver...
Depois confirmou-me o seu nome e também o do meu tio, que viveu com o pai naqueles tempos, antes dele viajar para o Oeste, apenas com bilhete de ida e onde descobriu a minha mãe.
Quis saber do pai, disse-lhe que já tinha partido há nove anos.
Ela depois de me pedir desculpa pelo indiscrição, respondeu-me que a imagem que guardara dele, era a de um homem bonito e atraente.
Abanei a cabeça, afirmativamente. As fotografias da época não enganam.
O mais curioso é que não nos voltámos a encontrar.
O mundo tanto pode ser pequeno como grande...
O óleo é de Ivo Petrov.
:)))
ResponderEliminarParece que (quase) tudo é possível, Luís.
Beijinho.
Há parecenças que nós não vemos – mais interessados, às vezes, nos traços distintivos – mas que para os outros são absolutamente reveladoras, Luís. Pormenores inesperados: uma entoação de voz, uma forma de rir… :-)
ResponderEliminarLuís, estas vivências fazem parte do nosso palimpsesto.
ResponderEliminarO mundo é grande, mas muitas vezes é pequeno.Às vezes até parece que moramos todos numa aldeia.
ResponderEliminarE nada acontece por acaso, pelo menos eu acredito nisso.
claro que houve de certeza outra razão para a senhora se aproximar, o meu apelido, que não é assim tão comum como isso, Maria.
ResponderEliminarmas foi uma novidade autêntica, daquelas que nos deixam sem saber o que dizer.
eu sei, Luisa.
ResponderEliminartambém já fui confundido com o meu irmão e aparentemente somos diferentes. mas depois vêm os tiques, a forma de sorrir, etc...
são a prova de que tudo pode acontecer, Helena...
ResponderEliminaré isso mesmo, Anita.
ResponderEliminaro mundo estica e encolhe, tanto moramos numa aldeia como em países distantes...
Alguma antiga namorada... Acho tão bonito! Tão romântico!
ResponderEliminarquando se conhece as pessoas nesses pequenos gestos singulares, é quando se conhece o interior e o avesso :) um grande beijinho, luís*
ResponderEliminar