Mesmo que não seja o grande livro de Saramago, é uma obra bastante significativa, pois foi ela que lhe deu a "consistência", a "vontade" e o "balanço", decisivos no seu invejável percurso literário, até ao Nobel.
Sei que li o "Levantado do Chão" tarde demais (quase 43 anos depois da sua primeira edição...), e por isso detectei vários defeitos, que antes poderiam ter escapado, como a doutrina comunista, exagerada, embora tudo aquilo tenha acontecido mesmo no Alentejo. Hoje volta a falar-se demasiado em "escravidão", e eu não consigo olhar de outra forma, para o tratamento que era dado aos trabalhadores dos campos alentejanos (e de todos os campos do país)...
Mas o que não deixa de ser curioso, é toda a "sintomatologia" do regime de então, continuar presente (especialmente em governos maioritários, está a acontecer a Costa o que aconteceu com Cavaco e Sócrates...).
Transcrevo apenas um parágrafo do livro: «A grande e decisiva arma é a ignorância. É bom, dizia Sigisberto no seu jantar de aniversário, que eles nada saibam, nem ler nem escrever, nem contar nem pensar, que considerem e aceitem que o mundo não pode ser mudado, que este mundo é o único possível, tal como está, que só depois de morrer haverá paraíso, o padre Agamedes que explique isto melhor.»
Faz-me confusão, que os políticos (de ontem e de hoje) gostem tanto de governar para parvos e ignorantes, mas não devia. É tudo mais fácil... Já o papel da igreja, é o que sempre foi. Pobrezinhos destes padres e bispos, devem ter tantas saudades do "tempos dos milagres"...
(Fotografia de Luís Eme - Alentejo)
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