O primeiro livro sobre o qual vou escrever é muito bom. É de poesia e foi editado em 1965. Falo de "Feira Cabisbaixa" de Alexandre O'Neill.
Esta pequena obra editada pela Ulisseia tem poemas extraordinários, mas do que quero falar é do prefácio de António Alçada Baptista, que apesar de ter sido escrito há 57 anos, podia ter sido escrito hoje, pois retrata na perfeição estes tempos de crise, que começa a ser profunda para milhões de portugueses. E é por isso que transcrevo com a devida vénia algumas das palavras de Alçada Baptista:
«Acontece muitas vezes, quando as sociedades atravessam crises profundas, que a neurose colectiva é o meio habitual de auto-defesa e a intoxicação sistemática o processo que revela a ausência de serenidade, de espírito de ciência e de justiça, sem os quais não podemos diagnosticar uma sociedade sã. A caça aos intelectuais uma classe sem outras armas que não sejam a sua cabeça e a sua pena e que "cometem o crime" de investigar e procurar na sociedade, nas suas pessoas e nas suas instituições, nas suas linhas de força e nos seus mitos, aquilo que mais se pode aproximar dum seu maior conhecimento e duma maior libertação.»
Transcrevi propositadamente estas últimas palavras que denunciam a "caça ao intelectual", porque este está em extinção, nesta nossa sociedade de consumo e de conhecimento ultra-rápidos. Sei que é difícil perceber o sentido exacto das palavras do António, porque a Censura e a PIDE, obrigaram-no a ser extremamente cuidadoso e inteligente no uso das palavras...
Mas não posso deixar de sublinhar a existência da mesma "intoxicação sistemática" e os mesmos sintomas que nos afastam de uma sociedade sã, nos nossos dias. Nem parece que em 2022 se vive em democracia...
(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)
Concordo contigo. Parece que foi escrito hoje.
ResponderEliminarFoi o que senti ao ler, Catarina.
EliminarA caça aos intelectuais continua e cada vez parece ter mais caçadores.
ResponderEliminarMas muitos intelectuais já desistiram de lutar, Severino.
EliminarBoa tarde
ResponderEliminarDaí sabermos quais os bons.
JR
Sem dúvida, Joaquim.
EliminarÓ Luís, as férias passaram depressa! Parece que foi ontem que disseste que ias para a aldeia...
ResponderEliminarUmaMaria
O tempo é demasiado veloz, Maria, especialmente quando estamos de férias. :)
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