Há anos que não ouvia aquela alcunha, que tentaram "colar à pele" de um amigo, que não encontro desde o final do século passado.
Não só mudámos de emprego, como eu também mudei de cidade... E depois a vida tratou de nos "desencontrar"...
Lembro-me que quando fui trabalhar para a sua secção, houve logo alguém que me avisou para não lhe dar muita confiança, para não acabar mal. Normalmente gosto de seu eu a fazer os meus próprios juízos (e nunca me dei mal com isso...). E foi desta forma que acabei por ser surpreendido, pela positiva, porque descobri um camarada a sério, que não tinha nada a ver com a personagem que me tentaram "soprar para dentro dos ouvidos".
A sua descontração natural era o melhor antidoto para a pressão diária a que estávamos sujeitos. Hoje apercebo-me melhor da sua paciência e gosto em me ajudar. Até foi capaz de me revelar alguns "truques" da nossa profissão, que eram escondidos e fechados a sete chaves pelos "antigos"...
Fora do nosso dia a dia, há dois acontecimentos passados com ele, que recordo com alguma emoção.
Corria o boato de que ele devia dinheiro a toda a gente e fingia-se esquecido, na hora do acerto as contas. Aquilo fazia-me alguma confusão porque éramos amigos e ele nunca me pedira dinheiro emprestado (na altura era solteiro e até vivia com algum desafogo...). Foi também por isso que, quando fomos trabalhar para fora, no seu carro, senti-me na obrigação de lhe pagar o almoço. Era o mínimo que podia fazer, pensava eu. Mas não o consegui, porque quando ia para pagar, ele já se tinha antecipado. Foi à casa de banho e pelo caminho pagou a nossa refeição...
A outra aventura ainda é mais digna de realce. Ele adorava a noite e era uma figura popular em vários espaços lisboetas. Eu sabia desta sua faceta, mas estava longe de o imaginar tão popular, ao ponto de me ter "salvo a pele" e a mais três amigos, numa discoteca afro-lisboeta. Um destes amigos com "mau vinho", resolveu começar a provocar uns rapazes de cor, que eram mais do dobro de nós. Quando já começava a pensar que que dificilmente escaparia de boa, daquela refrega, olho para as escadas e descubro-o, com o seu bengalim de estimação. Ele acenou-me e depois aproximou-se, e com a sua descontração natural, não só acalmou as hostes como nos colocou na rua, sem um único arranhão...
Há pessoas assim, passam por nós como "anjos"... E pouco nos importa que na boca dos outros, não passem de "demónios"...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Bom dia
ResponderEliminarUma historia e peras .
Verdadeira ou não ! Eis a questão !
Abraço
JR
E verdadeira Joaquim.
EliminarE para caber aqui foi muito sucinta, teria mais coisas a dizer deste bom amigo.
O almoço foi num pequeno restaurante em Coina, que provavelmente já não existe... E a discoteca de "má fama" também está fechada há muitos anos...
É sempre tão gratificante recordar um excelente amigo... Gostei deste texto.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde, meu Amigo Luís.
Um abraço.
É verdade, Graça.
EliminarE quando a amizade fica, o tempo faz com que só recordamos as partes boas...
Bonita recordação mas também pasmo às vezes com a admiração que algumas pessoas sentem por outras. :)
ResponderEliminarAbraço
Não sei se lhe chamaria admiração, Rosa.
EliminarMas quando as pessoas nos tratam bem, fica sempre uma impressão positiva.
Até mesmo quando se trata de desconhecidos, que nos ajudam numa situação de "aperto". Acho que é esta capacidade de ajudar os outros sem estar à espera de nada em troca que nos define como gente.
Claro que com estes tempos em que se realça o egoísmo, o "cada um por si", estas pessoas começam a ser uma raridade, até começam a ter medo de ajudar o próximo e serem mal entendidos...
Na nossa vida passam pessoas que nos deixam marcas. Só é pena que não as continuemos a acompanhar....
ResponderEliminarTive uma colega de Faculdade de quem fui muito amiga. Era mais velha que eu e trabalhava num escritório. Assim, levou mais tempo do que eu a terminar o curso.
Quando o terminou, foi dar aulas e deixou o escritório, claro! Eu, nessa altura, já era professora há dois anos. Quando ela foi colocada numa escola estava tão nervosa que me telefonou..eu dirigi-me de imediato para lá para a ajudar. Depois, chegámos a dar aulas juntas na mesma escola. Entretanto, eu casei, ela foi ao meu casamento mas afastámo-nos.
Um dia, estava a ver uma agenda antiga e dou de caras com o número de telefone dela (isto foi há muitos anos, ainda não havia telemóveis). Liguei-lhe e estivemos ainda um bom bocado a conversar. Mas já não foi a mesma coisa! Desligámos os telefones e nunca mais falámos.
Já não havia nada para dizer. A nossa amizade tinha morrido com o tempo!
Pois, há muita coisa que se perde com o tempo, Maria.
EliminarFicam as memórias.
E também acabamos por mudar com as partidas que a vida nos vai pregando...
Tens toda a razão, Luís.
EliminarE até mudamos os nossos gostos, seja de livros, música ou filmes....