A minha companheira levantou-se para ir às compras e eu fiz-lhe sinal, para se sentar ao pé de mim.
Desde o começo da pandemia é a primeira vez que nos sentamos e conversamos, indo mais longe que a habitual troca de cumprimentos.
Começou por falar dos amigos que nos apresentaram há quase trinta anos e já não estão cá. Focou-se no Vitor, talvez por ter partido antes do tempo (se é que isso existe...). Depois disse que o pior da pandemia foi a forma como afastou as pessoas, de uma forma quase definitiva, em muitos casos. Explicou-me que há alguns amigos dele que quase que deixaram de sair à rua, por imposição dos filhos.
Acabou por sorrir, dizendo, «finalmente tenho uma vantagem em nunca ter tido filhos.»
E continuou. «Passados todos estes anos, ainda não sei se fiz bem ou mal em nunca ter casado. Posso ter passado mais tempo sozinho, mas evitei centenas de discussões e confusões.»
Argumentei que o sal da vida são as confusões e discussões em família. Ele sorriu, com ar de quem não ficou muito convencido, antes de continuar a conversa:
«Esperar sempre foi uma boa desculpa para tudo. Acho que passei a vida toda à espera. Esperei anos a fio a mulher perfeita... Continua a ser a desculpa preferida dos solteirões. E agora espero que me levem para qualquer lado, com pouca esperança de que seja melhor que esta esplanada.»
Depois de nos despedirmos, fiquei a pensar no verbo "esperar", sempre tão presente nas nossas vidas...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Tens razão! Passamos uma grande parte da nossa vida à espera. E a vida vai passando! Sempre!
ResponderEliminarE nunca fica à nossa espera, Maria. :)
EliminarBom dia.
ResponderEliminarNão guardes para amanhã o que podes fazer hoje !
O que não se faz no dia de Stª luzia , faz-se no outro dia.
Para algo que fazemos , há sempre o reverso da medalha .
JR
Também, Joaquim. :)
Eliminar