segunda-feira, junho 07, 2021

«Se a decisão de se ser artista, partisse apenas de nós, éramos todos artistas»


Fazia-me alguma confusão que o homem que pintava quadros, fosse desprovido de imaginação. Os seus trabalhos partiam sempre de cópias sobre qualquer coisa,  que ele escolhia da sua colecção de fotografias, recortadas de revistas. A maior parte das imagens que guardava eram retratos de outros quadros, uns pintados por artistas famosos outros nem por isso. 

Ele não era mau copista, e por isso era muito elogiado pelos "curiosos" que o rodeavam e namoravam os seus quadros. Notava-se que ficava "inchado" com os elogios.

Deve ter sido por isso que numa das exposições colectivas em que participou, encheu-se de coragem e foi buscar quase pelo braço um mestre, que estava ali um pouco ao acaso.

Este quando olhou o seu quadro, percebeu logo que se tratava de uma cópia. Quando o pintor lhe perguntou o que achava, este limitou-se a dizer que: «a arte é outra coisa.»

O pintor não conseguiu esconder o seu desencanto e assim que pôde, virou-lhe as costas. 

O mestre já com alguma experiência em lidar com estes "egos fascinados", disse para quem o quis ouvir: «Se a decisão de se ser artista, partisse apenas de nós, éramos todos artistas.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


4 comentários:

  1. Bom dia
    Todos nós temos algo de artista , só que nem todos o demonstramos .
    Eu tinha um sonho de ser artista de teatro , mas fiquei apenas com o sonho .

    JR

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    1. Sim, nem sempre encontramos portas abertas para entramos, Joaquim.

      Claro que quer muito "ser isto ou aquilo", se for preciso até arromba portas. :)

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  2. É muito interessante o seu texto! Lembrei-me de uma situação numa feira de artesanato em que participei com os meus trabalhos manuais e tinha os meus presépios de lapinha, artesanato típico dos Açores, expostos! Uma senhora parou para os admirar, contou-me que sabia fazer as miniaturas de bobecos em barro, tinha os moldes, mas não sabia fazer o presépio, eu que não sou nada amiga de guardar para mim o que sei, expliquei o material que eu usava, como fazia a base, o suporte, etc e ela fiz-me que sabia tudo isto, não sabia era onde colocar as coisas, a disposição dos bonecos, eu olhei calada enquanto uma senhora que a acompanhava dizia, então para fazer, peça a esta moça que esteja ao seu lado a indicar onde deve colar!
    Ela sabia as técnicas todas mas não tinha a criatividade!

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    1. Há muita gente assim, Micaela, parecem não saber pensar pela própria cabeça.

      E o pior é não perceberem que a arte vivo da criatividade, da diferença, da procura da tal originalidade, cada vez mais dificil de encontrar. :)

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