sábado, novembro 03, 2012

Querer Escrever Sobre Este Pesadelo "Fascista" que Está a Destruir o País


Não sei se conseguirei chegar ao romance, mas estou feliz com o regresso das ideias e das personagens, que tentarão retratar esta espécie de gente que se tem governado à nossa custa, que quando se olha ao espelha deve achar-se "iluminada" na arte de enganar. Fazem-me imaginar o feirante sem alma, que exclama, quando conta as notas gordas a um canto mais sossegado da venda, «já enganei mais um.»

Claro que pretendo ir mais longe, não me ficar pela feira, ir mesmo aos salões bafientos do Estado Novo, que estão a voltar a ser recuperados nas casas seculares.

Foi a propósito de uma cena que se passou comigo num desses "salões", que percebi que quando escrevemos é mais importante o que verdadeiramente sentimos que a própria realidade. Vou tentar desmontar o que acabei de dizer. Na história de ficção há uma parte em que o meu "alter-ego" é interpelado desta forma crua: «com que então você é comunista!» Fica sem palavras, até dizer apenas um, «e depois?»

Aconteceu-me algo parecido, mas nunca usaram a palavra comunista, provavelmente por pudor, colocando em causa o meu rigor enquanto historiador. Incomodado, afirmei que a história terá pelo menos sempre dois olhares, antagónicos, um de direita e outro de esquerda. O senhor ainda foi mais longe, falando de uma forma alterada. No mesmo tom acrescentei que era um produto do 25 de Abril e da democracia e que quando escrevia sobre Almada, escrevia essencialmente sobre o povo. 

A terceira pessoa que estava connosco tentou acalmar-me, ao mesmo tempo que o senhor  saiu da sala, depois de o chamarem numa outra divisão. Dois minutos depois voltou, completamente calmo, fingindo que não se tinha passado nada entre nós.

Embora me apetecesse vir logo embora daquela casa, por uma questão de educação aguentei por mais algum tempo a hipocrisia do senhor, agora cheio de amabilidades.

Em princípio iria fazer um trabalho sobre a sua família. 

Claro que depois de pensar a sério sobre a questão, abandonei o projecto. A pessoa amiga que estava envolvida neste trabalho tentou demover-me da minha decisão, mas não conseguiu. Tive pena por ela, mas há princípios que ainda me posso dar ao luxo de seguir, um deles é escrever livremente, sem qualquer tipo de condicionalismo ideológico, mesmo quando se trata de história.

Não estava a espera de escrever tanto, de dizer tanto, neste começo de manhã de sábado, em que mais uma vez as "ideias" fintaram o sono...

A ilustração é de Maria Keil.

7 comentários:

  1. eu queria se mosca e assistir à cena.

    acho que fizeste bem.

    e deixo os votos de bons textos(como este) e bom fim de semana.

    beijo

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  2. Força, amigo! Eu cá também não me fico!... Dantes não era assim, mas agora ando muito irritável, algo irascível. Nem sei bem porquê....

    Bons escritos!

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  3. foi mais sério do que o que escrevi.

    e o Salazar estava a olhar numa das paredes, Pi. :)

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  4. enquanto for possível pensar pela minha cabeça, assim será, Graça.

    mas querem que sejamos cada vez mais um rebanho de ovelhas brancas.

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  5. Boa!
    Que a inspiração não falte.
    E os princípios são como a liberdade: têm a sua raiz em nós
    :-)
    Beijos.

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  6. Olá caro Luís,

    Vim cá ter de "rompante" e tenho estado a vaguear pelo seu blogue.

    Apreciador de arte como sou, fico encantado com as suas escolhas artísticas para acompanhar/ilustrar os seus escritos/posts.

    Refereindo-me a este post, eu espero vir a ler um dia 1 romance seu.

    1 abraço.

    silenciosquefalam.blogspot.pt

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