terça-feira, outubro 25, 2011

O Dono do Tempo


Sempre senti que o velho Fernando tinha um poder qualquer especial, pela forma como lidava com o tempo.

Talvez fossem resquícios dos muitos anos que passou agarrado aos relógios de todos os tamanhos e feitios.

Claro que ele nunca foi apenas relojoeiro, nem ourives. Todos sabiam que ele era sobretudo um contador de histórias, das boas, daquelas que nos alegravam no final de dia de trabalho. Era por isso que nunca conseguia fechar a loja às 19 horas, ficava sempre mais um bocado, a ver os amigos passarem à sua porta e espreitarem, prontos a contar as novas da Capital, ou a aventura da travessia do rio, quando o Tejo estava mais agitado e se deixava levar pelos ventos e pelas ondas que chegavam do Atlântico e abanavam o Mar da Palha.

Ainda hoje, quase a fazer 88 anos, é praticamente a única pessoa que me conta anedotas, das que me deixam a sorrir...

Ainda bem que o Fernando se dá tão bem com o tempo, que o deixa ficar aqui, para nos fazer sorrir...

O óleo é de Max Ferguson.

8 comentários:

  1. Gostei particularmente deste teu texto. Tenho um familiar, muito próximo, que tem uma verdadeira paixão por relógios: de bolso, de mesa, de parede, dos altos colocados no chão... e fizeste-me recordá-lo porque lhe digo que ele é dono e senhor do tempo.
    Quanto ao Senhor Fernando, ainda activo, continua agarrado ao que lhe dá prazer, como as crianças às suas mães, e isso faz dele o ser encantador e saudável que é.
    Que assim continue por muitos e bons anos.
    Bem-hajas, Luís!

    Beijinho

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  2. Quem gosta de falar e contar histórias costuma perder o passar do tempo...

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  3. Felizmente há pessoas assim e são felizes. E fazem os outros felizes.

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  4. penso e espero que seja assim até ao fim, Isamar.

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  5. sim, da madureza da vida, Helena.

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  6. é verdade, Olinda.

    e se for dos bons, até nós ficamos com todo o tempo do mundo para o escutarmos. :)

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  7. é verdade, e como sabe bem fazer os outros felizes, Carol. :)

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