sábado, junho 04, 2011

«Gostas mesmo de farturas?»


A rua estava cheia de gente, uns a dançar, outros a apreciar o espectáculo, de pé ou sentados nas esplanadas improvisadas que enchiam a rua Capitão Leitão, perfumada com o cheiro da sardinha assada.


O hall do velho cinema da Incrível com a feira do livro, estava quase às moscas.

De vez enquanto lá entrava alguém, mais para ver que para comprar.

Foi o que aconteceu com aquela mãe e aquele filho, que devia ter oito, nove anos e ficou logo agarrado a um pequeno livro, de apenas um euro.

A mãe leu-lhe a cartilha num tom audível, «se levares o livro não te compro uma fartura, agora escolhe.» O miúdo ficou indeciso e sem dizer nada acabou por largar o livro e sair com a mãe.

Menos de um minuto depois ele voltou a entrar. Decidido pegou no livro e estendeu-me a mão com um euro. Antes de receber o dinheiro perguntei-lhe se gostava mesmo de farturas, disse-me que sim, meio pesaroso, provavelmente a pensar no sabor do frito doce. Como era noite de festa disse-lhe que podia levar o livro e ficar com a moeda para comprar a tal fartura.

Agradeceu-me e saiu dali com um sorriso de orelha a orelha.

Contra todas as previsões, parece que ainda há crianças que gostam de livros de papel...

O óleo é de Jan McDonald.

4 comentários:

  1. Gostei muito deste texto e do óleo :)

    (quando era criança, ao fim-de-semana era confrontada com uma escolha parecida, mas entre uma revista e um chocolate e alternava entre os dois :)

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  2. as crianças querem sempre quase tudo, é normal existirem confrontos, opções, Gábi.

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  3. andei a colocar a leitura em dia, mas, fiquei-me neste.
    este texto trouxe.me tantas recordaçoes.
    obrigada!
    beij

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  4. os tempos não mudaram tanto como imaginamos, Piedade...

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