A rua estava cheia de gente, uns a dançar, outros a apreciar o espectáculo, de pé ou sentados nas esplanadas improvisadas que enchiam a rua Capitão Leitão, perfumada com o cheiro da sardinha assada.
O hall do velho cinema da Incrível com a feira do livro, estava quase às moscas.
De vez enquanto lá entrava alguém, mais para ver que para comprar.
Foi o que aconteceu com aquela mãe e aquele filho, que devia ter oito, nove anos e ficou logo agarrado a um pequeno livro, de apenas um euro.
A mãe leu-lhe a cartilha num tom audível, «se levares o livro não te compro uma fartura, agora escolhe.» O miúdo ficou indeciso e sem dizer nada acabou por largar o livro e sair com a mãe.
Menos de um minuto depois ele voltou a entrar. Decidido pegou no livro e estendeu-me a mão com um euro. Antes de receber o dinheiro perguntei-lhe se gostava mesmo de farturas, disse-me que sim, meio pesaroso, provavelmente a pensar no sabor do frito doce. Como era noite de festa disse-lhe que podia levar o livro e ficar com a moeda para comprar a tal fartura.
Agradeceu-me e saiu dali com um sorriso de orelha a orelha.
Contra todas as previsões, parece que ainda há crianças que gostam de livros de papel...
O óleo é de Jan McDonald.
Gostei muito deste texto e do óleo :)
ResponderEliminar(quando era criança, ao fim-de-semana era confrontada com uma escolha parecida, mas entre uma revista e um chocolate e alternava entre os dois :)
as crianças querem sempre quase tudo, é normal existirem confrontos, opções, Gábi.
ResponderEliminarandei a colocar a leitura em dia, mas, fiquei-me neste.
ResponderEliminareste texto trouxe.me tantas recordaçoes.
obrigada!
beij
os tempos não mudaram tanto como imaginamos, Piedade...
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