sábado, abril 16, 2011

Histórias Com e Sem Honra


Por saberem que escrevo e gosto de ouvir histórias com gente dentro, alguns amigos sempre que me apanham a jeito, vão ao fundo do "baú" e começam a contar-me episódios do arco da velha.


Uma senhora bem vestida que passou pela esplanada acabou por entrar numa das histórias que me contaram, por ser viúva do António "Pescarias", que era uma jóia de rapaz.

Talvez por isso, por ser bom demais, é que o irmão o avisou que a mulher o andava a trair. De início não acreditou, por gostar da esposa e por pensar que ela era incapaz de fazer algo do género.

Ele trabalhava por turnos nos estaleiros navais e para se certificar se era verdade ou não, trocou o horário de trabalho e pouco depois da meia-noite apareceu em casa. Assim que deu à chave ouviu algum alvoroço no quarto. Ainda foi à cozinha, para dar tempo ao amante da mulher para se esconder.

A mulher surpreendida perguntou-lhe se tinha acontecido alguma coisa. Ele sossegou-a disse que fora apenas uma avaria nas máquinas e o pessoal fora dispensado.

Depois de se deitar perguntou à mulher se não ouvia um ruído estranho, que lhe parecia vir do roupeiro. Ela disse que talvez fosse um rato. Ele exclamou, «deve ser é uma ratazana.»

Na manhã seguinte quando acordaram ouviram um barulho fora do normal no largo. Quando chegaram à janela estava o "amante", preso a um poste, completamente nu, apenas com um cartão grande a tapar-lhe o tronco e as partes, que tinha escrito, "ratazana".

Como o homem traído era incapaz de lavar a honra com sangue, combinou com o irmão (que ficou de sentinela, a ver quando é que o "herói" se escapulia de casa), aquela "humilhação", para que que servisse de lição para a mulher e para o amante, que nunca mais perdeu a alcunha de "ratazana" pela vida fora...

Claro que naquele tempo a maior parte das pessoas que souberam o que acontecera, acharam que a "lição" tinha sido demasiado suave. Para elas a honra só se podia lavar com sangue...

O óleo é de Larry Bracegirldle.

10 comentários:

  1. gosto muito de tus historias Luis..además de entretenidas son tan variadas.. tu orilla si que que tiene infinidad de orillas .
    feliz puente de S santa...até la volta

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  2. venham mais histórias.:-)

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  3. Gostei de óleo (como acho que praticamente todos os que tenho visto aqui :) A história é um pouco triste, mas pelo menos, o marido não lavou a honra com sangue.

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  4. gostei da minha "infinitad de orillas. :)

    sim, sou um bom "escutador", Momo.

    vicios do jornalismo e também de quem gosta de ouvir uma boa história.

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  5. estão sempre na forja, Sinhã. :)

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  6. triste foi a história que me contaram de seguida, Gábi.

    passada na mesma localidade e com alguém que também trabalhava por turnos na mesma indústria.

    só que esta teve outro desfecho. o marido traído desta vez chegou a casa mesmo porque os estaleiros tinham fechado (um pequeno incêndio numa das sessões). entrou sorrateiramente em casa para não acordar a mulher e começou a ouvir gemidos e surpreedeu-a na cama com o irmão.

    pegou na arma que tinha em casa e matou os dois.

    esteve preso sete anos mas não se arrepende do que fez, continua a pensar que fez o que tinha de fazer, mesmo tendo matado o irmão.

    isto da "honra" tem que se lhe diga. ontem á tarde estava de "serviço" na feira do livro da Incrível e um amigo que estava por lá a ler o "C. Manhã", falou-me do caso de uma brasileira de 17 anos vitima de violência doméstica, numa outra perspesctiva, que o pai e os irmãos deviam dar um "aperto" ao "macho" em causa.

    ou seja, muitas vezes a honra também era lavada pela família (pais e irmãos)...

    tu como mulher do norte, deves conhecer casos destes, pois as tradições estão mais enraizadas no norte e no interior do país.

    (isto é quase uma posta...)

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  7. Uma história com um final feliz, malgré tout! :-))
    Uma ensinadela para os infiéis e muito pedagógica para quem a presenciou de perto!
    Como sempre um belo óleo...

    Abraço

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  8. menos mal, para um país como o nosso, nem sempre contemporizador para estes casos, Rosa.

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  9. Por acaso, não serei bem uma mulher do norte (nasci em Lisboa), mas antes uma grande mistura :)

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  10. estou a ver, Gábi, uma "moura" disfarçada pelos nortes... :))

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