Parei hoje em frente do prédio onde passei muitas tardes, a discutir, trocar e a somar ideias.
Provavelmente já se foram todos embora, por isso é que a placa enorme, "vende-se", surge por ali, imponente.
O mais curioso é que quem me apareceu por ali, sem pedir licença, foi uma das mulheres do escritório de contabilidade e não a Teresa, o Pedro ou o Gui.
Se houvesse um banco nas proximidades sentava-me e ficava a olhar as janelas compridas, a recordar os rostos das discussões, das histórias e das ideias "milagrosas", que nem sempre apareciam. E também rostos como o da mulher com quem apenas trocava um bom dia ou um boa tarde, quando nos cruzávamos à entrada do velho prédio ou nas escadas de madeira que nos levavam para os vários escritórios que povoavam os seus pisos superiores.
A diferença mais assinalável era ela olhar-me nos olhos, coisa rara nas mulheres que costumam passar por mim quase sem me ver.
Sabia que se chamava Carla, porque alguns colegas ofereciam-lhe cumprimentos personalizados. Quando vamos para velhos começamos a poupar as palavras e só falamos com as pessoas que conhecemos. Nas grandes urbes ainda temos o velho hábito de poupar nos cumprimentos de aldeia, bons dias e boas tardes só mesmo para quem nos cruzamos praticamente todos os dias.
Continuei a andar pela rua fora. Se fumasse sei que puxava de um cigarro, talvez para disfarçar a estupidez de nunca ter convidado aquela mulher que me olhava nos olhos, para beber um café...
O óleo é de Jeffrey Hein.
Poupamos demasiado, nas palavras e em tudo o que é importante na vida, infelizmente. Belissimo texto
ResponderEliminarAdorei o texto e pelo visto, não sou a única. Tás muito inspirado, meu amigo! E o quadro, então, pra lá de bem escolhido.
ResponderEliminarJá disseste tudo e o indizível também, só me resta deixar-te um beijo, sem olhos nos olhos a esta distância.
Agora nada a fazer!
ResponderEliminarSe outra mulher te olhar assim nos olhos não percas a oportunidade! :-))
Abraço
é, George Sand.
ResponderEliminare quando descobrimos é quase sempre tarde...
às vezes acontece, escrevermos coisas mais de "dentro de nós", Lóri.
ResponderEliminardepois este país, está cheio de coisas fechadas e de placas, aluga-se e vende-se.
desconfio que a maior parte destas coisas já não são nossas...
Rosa, deves saber que quando nos olham nos olham nos olhos ficamos sempre mais intimidados, por não estarmos habituados...
ResponderEliminartantas as vezes que passamos pela vida alheios aos olhares que ela nos oferece
ResponderEliminarvez por outra abanamos a cabeça e lembramo-nos que, afinal estamos vivos e que há olhares que nos provocam esse suspiro
Ai os homens! Uns tímidos, after all...
ResponderEliminarsim, somos uns distraidos, "um minuto".
ResponderEliminaracho que é não é bem timidez, Carol.
ResponderEliminarmuitas vezes é não querer ser mal entendido.
Talvez ela tenha reparado que tens uns olhos bonitos...
ResponderEliminar:)))
Beijinho, Luís.
nunca se sabe, não tinha pensado nessa hipótese, Maria. :))
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