Uma professora amiga convidou-me para participar numa palestra sobre "A Censura, Ontem e Hoje".
Havia mais dois convidados, ambos professores. Foram eles que iniciaram a sessão, começando por espreitar para o interior dos jornais, criticando o jornalismo dos nossos dias, sem se esquecerem de salientar os monopólios existentes, e a cada vez mais nitida, autocensura, imposta pelos chefes. Um deles foi ainda mais longe, chamou aos directores, "testas de ferro" das administrações e do poder económico.
Quando foi a minha vez de falar, disse que as questões que tinham sido abordadas, eram pertinentes e preocupantes, mas faziam parte do mundo actual, onde a economia se sobrepõe a tudo. Acrescentei que a história dos "testas de ferro" não era nenhuma novidade no jornalismo nem no mundo empresarial, e como tal, tinha de ser encarada com normalidade. Pois os donos de qualquer empresa, têm o direito de escolher, quem melhor defende os seus interesses.
O que eu fui dizer...
Disseram-me que uma coisa não tinha nada a ver com outra, que a informação tinha de ser livre, etc.
Só os consegui calar, quando lhes lembrei que o José Saramago, quando esteve no "Diário de Notícias" em 1975, não foi lá colocado pelo seu valor como jornalista, mas pelo que representava, como elemento de confiança política, para quem administrava o jornal em nome do Estado...
Os alunos fizeram perguntas várias, interessantes, e até pertinentes. Pela minha parte, expliquei-lhes como funcionava a censura (mesmo sem a ter conhecido pessoalmente...), como cortava os textos com o lápis azul, muitas vezes sem grande nexo. Também lhes disse que a autocensura é algo pessoal, depende de uma série de factores, principalmente da nossa educação e da forma como olhamos o mundo. Não é uma coisa que esteja afixada na redacção ou seja ditada pelo director, como se procurou dar a entender.
Os outros dois companheiros de aventura é que não ficaram lá muito convencidos, com as coisas que disse. Paciência...
O desenho bem elucidativo, é da autoria de Ferreira dos Santos...
É verdade que a censura existe, e é tanta que pode ser encarada sem surpresa, mas nunca com naturalidade. Era o mesmo que encarar a corrupção, o clientelismo e caciquismo com naturalidade, como um facto irreversível.
ResponderEliminarO que mais me surpreendeu foi a referência a Saramago...
ResponderEliminarPorque essa fase pouco agradável da sua vida parece que foi eliminada da memória colectiva...
Parabéns, Luís, pelo desassombro!
Abraço
"Cadeira do Poder", não falei em naturalidade, mas sim em normalidade (não têm o mesmo significado...).
ResponderEliminarInfelizmente todas essas coisas de que fala são práticas normais na sociedade onde estamos inseridos, quase sempre com a complacência da justiça.
Pois parece, Sininho...
ResponderEliminarSegundo consta o Saramago é escritor desde pequenino e pronto, não se fala mais nisso...
Normalidade no sentido de comum, não de ordem aceitável e justa das coisas, que será o seu sentido estrito. É comum, infelizmente, a coptação da informação pelo poder económico. Normal, natural e justa não é. Saramago tem telhados de vidro, como todos os homens, sobretudo os de fortes convicções. Como a maioria dos artistas que não vivem em torres de marfim. Veja-se Ezra Pound, por exemplo.
ResponderEliminarConcordo com a Soledade, em tudo, até nos telhados de vidro.
ResponderEliminarUtilizei o exemplo de Saramago, só para exemplificar, que a "instrumentalização" na comunicação social sempre existiu, mesmo na época em que algumas pessoas teimam em considerar, a única em que se viveu em verdadeira democracia (Verão Quente...)