Há exactamente quarenta e seis anos, a PIDE matou, cobardemente, José Dias Coelho, com vários tiros disparados nas suas costas, numa das ruas de Alcântara.
Na época Dias Coelho era um promissor artista plástico, militante do PCP, que decidiu abdicar dos seus sonhos pessoais e passar à clandestinidade, juntamente com a sua companheira de sempre, Margarida Tengarrinha, atrás de um sonho maior: o da Liberdade para todos os portugueses.
O desenho que escolhi, foi uma adaptação que fiz de um dos seus últimos desenhos, reproduzido no "Avante", a quando do assassinato de Cândido Pilé, em Almada, ocorrido um mês antes da sua morte, utilizado (com um filtro) para a capa do meu livro "Almada e a Resistência Antifascista".
Ao contrário do que se "diz por aí", nesse dia a PIDE matou muito!
ResponderEliminarPessoalmente, preferia ainda ter o Dias Coelho entre nós e por isso ter sido obrigado a escolher qualquer outra cantiga, nas centenas de ocasiões em que cantei a (magnífica) "A Morte Saíu à Rua", do Zeca.
19 de Dezembro de 1961 uma data que não esqueço
ResponderEliminaro assassinato de José Dias Coelho levou o cantor Zeca Afonso a escrever e dedicar-lhe a música: "A morte saiu à rua"
nasci em Angola por força da clandestinidade, foi ela que uniu os meus pais
muitas vezes penso se não foi isso que me fez nascer ...
o que aqui li fez-me verter uma lágrima de saudades do meu pai. foi com ele que aprendi tudo o que não era permitido ser ensinado, como este 19 de Dezembro de 1961, o dia do assassinato pelas costas do artista de belas artes Dias Coelho
vou deixar um poema de alguém que admiro e que em 1961 já lutava pela independência em África:
O Choro de África
O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África
Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
e mesmo na morte do sangue ao contacto com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens
o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas
o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida
fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência
O choro de África é um sintoma
Nos temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos
Agostinho Neto - 1961
Desculpa deixar aqui este poema, mas ao ler este teu post hoje, trouxe-me à memória muito do que se passou em 1961, momentos narrados pelo meu pai e que estão gravados dentro de mim
um abraço meu, estar aqui é um prazer
lena
Não sei o que aconteceu aqui, Luís, mas chorei a sério, muito a sério, com o teu post e os comentários... o da Lena, onde vou agora já a seguir.
ResponderEliminarFoi a primeira vez que não consegui escrever mesmo nada.... de emoção...
Muito obrigada, Luís.
Um abraço apertado
Nesse e noutros dias, Samuel.
ResponderEliminarE se nos lembrarmos que os "cabecilhas" deste organização de bandidos iam a despacho directamente com o ditador, sabemos que ele de inocente não tinha mesmo nada.
Gostei da tua história de vida e do poema...
ResponderEliminarÉs uma querida Lena.
Outro, também apertado, Maria.
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