É Outono e na aldeia cheira a mosto, um cheiro doce, redondo, farto. Ouve-se, ao longe, o cantar arrastado de uma roga e, na calçada, ecoa o trotar de bestas carregadas de uvas, na azáfama alegre dos últimos dias de sol, para colher o trabalho de um ano, antes das primeiras chuvas que nunca se sabe quando vão cair e já se adivinham para os lados do Monte Airoso.
Pela noite dentro, os lagares enchem-se com a voz ritmada do mandador - esquerdo, direito, esquerdo, direito, tudo a eito, um, dois, esquerdo, direito – marcando a cadência, numa melopeia sonolenta, às vezes intercalada por uma modinha antiga tocada num realejo, se houver tocador á mão.
Vindimas de pobre, sem rogador, nem rancho, nem concertina, nem ferrinhos ou bombo, que conserto desta monta só no Douro, onde o vinho era do fino e valia muito mais.
Quem se lembra das vindimas há-de ter saudades de um copo de mosto, colhido directamente do lagar, doce, perfumado, fresco, e ainda se lembrará da recomendação para o beber com moderação, pois continuava a ferver no estômago.
O vinho que se provava no S. Martinho para lhe adivinhar as qualidades futuras, era o orgulho de cada agricultor, que acreditava que o seu vinho era o melhor vinho do mundo. Para que o confirmassem, a sua pipa estava sempre à disposição de quem quisesse beber um copo e para retribuir esta franqueza, seria ingratidão não dizer bem do vinhito, de preferência com metáforas iniciáticas que os provadores usam para lhe qualificar a cor, o aroma, o sabor e o corpo.
À sua saúde, meu avô, à tua, meu primo!
Nos melhores anos, o vosso vinho, esperto, cheiroso, fresco, foi mesmo o melhor vinho do mundo.
Pela noite dentro, os lagares enchem-se com a voz ritmada do mandador - esquerdo, direito, esquerdo, direito, tudo a eito, um, dois, esquerdo, direito – marcando a cadência, numa melopeia sonolenta, às vezes intercalada por uma modinha antiga tocada num realejo, se houver tocador á mão.
Vindimas de pobre, sem rogador, nem rancho, nem concertina, nem ferrinhos ou bombo, que conserto desta monta só no Douro, onde o vinho era do fino e valia muito mais.
Quem se lembra das vindimas há-de ter saudades de um copo de mosto, colhido directamente do lagar, doce, perfumado, fresco, e ainda se lembrará da recomendação para o beber com moderação, pois continuava a ferver no estômago.
O vinho que se provava no S. Martinho para lhe adivinhar as qualidades futuras, era o orgulho de cada agricultor, que acreditava que o seu vinho era o melhor vinho do mundo. Para que o confirmassem, a sua pipa estava sempre à disposição de quem quisesse beber um copo e para retribuir esta franqueza, seria ingratidão não dizer bem do vinhito, de preferência com metáforas iniciáticas que os provadores usam para lhe qualificar a cor, o aroma, o sabor e o corpo.
À sua saúde, meu avô, à tua, meu primo!
Nos melhores anos, o vosso vinho, esperto, cheiroso, fresco, foi mesmo o melhor vinho do mundo.
Joaquim Nascimento
óptima escolha a deste texto :)
ResponderEliminarDá vontade de tirarmos o dia para ir aproveitar as vindimas...pena que não posso!
Estive no fim de Junho no Douro, na Quinta De La Rosa e deu para imaginar como seria a vindima, até o cheiro pois fica entranhado nas paredes de granito do lagar...uma maravilha
beijinho e um bom dia
ps - E umas castanhas para acompanhar??? Uma maravilha :)
Lembro-me muito vagamente, tão vagamente que se calhar nem é memória de umas pernas sujas de cor de vinho, de homens juntos a ser homens e a imaginar que em cada passada em que a uva fica menos uva e mais mosto, que era por aquela passada, por aquele pé e aquele chão e a uva no meio que o vinho que pisa é o melhor do mundo.
ResponderEliminarEu lembro-me nitidamente... passo a passo, até vejo o meu avô a incitar as vacas, no meu do lamaçal... e os quilómetros que percorri com o meu irmão no velho lagar, a pisar uvas...
ResponderEliminarTenho saudade das vindimas, da família reunida à volta dos cestos..
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