Resolvi reler o "1984" de George Orwell, devido a um trabalho colectivo em que estou a participar.
Já o tinha lido há quase trinta anos, mas nós quando temos 20 anos não temos o mesmo olhar, nem a mesma linha de pensamento, de quando temos 50... Isso explica que não me lembre da sua leitura me ter despertado tantas questões (especialmente sobre o autor e a época em que foi escrito...), como agora.
Nessa época devo-o ter lido como uma obra de ficção científica e não me preocupei muito com as questões ideológicas que lança (apesar do mundo não ter evoluído tanto - e ainda bem - para o tal tempo quase de sombras e fotocópias humanas...).
Nem sabia que tinha sido escrito pouco tempo depois da Segunda Guerra Mundial e publicado em 1949 (algo que nem me deve ter preocupado nos anos 1990...). Sabia apenas que Orwell era um escritor estranho, ou que, pelo menos tinha escrito dois livros distantes da normalidade (o nosso "Triunfo dos Porcos" também tem muito que se lhe diga...).
Não é difícil concluir que o autor conheceu de perto algumas das práticas dos partidos totalitários (além do nazismo que fora derrotado pouco antes de começar a escrever "1984", Orwell também foi militante comunista, tendo abandonado a ideologia socialista, assim que teve conhecimento das atrocidades e da falta de liberdade dos países comunistas...).
Aliás, percebe-se que esta obra crítica sobretudo o ideário comunista, inspirando-se num centralismo de estado levado ao exagero, com a presença de uma grande opressão física e mental (não nos permitir pensar pela nossa cabeça nem ter qualquer relacionamento amoroso, tem muito que se lhe diga, mesmo muito...).
Sei que a popularidade do "big brother" televisivo fez com que algumas pessoas lessem este livro. Mas devem ter-se sentido enganados, pois além da proliferação das "teletelas" por todo o lado, não existe mais nada em comum...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Também eu li este livro há muitos anos quando ainda não tinha "traquejo de vida", talvez por isso tenha passado por ele sem ter deixado em mim qualquer vestígio; curiosamente, gostei mais de "Na penúria em Paris e em Londres" lido na mesma época.
ResponderEliminarFoi isso que senti agora, Severino.
EliminarNão li o livro que falas mas sei que ele andou misturado com os vagabundos e sem abrigo, para escrever essa história. Deve ser um livro "normal", ao contrário de "1984" e de "O Triunfo dos Porcos". :)
Sempre fui um estranho leitor.
ResponderEliminarSão muitas e variadas as birras que arranjei com livros e autores, sem a mínima capacidade de conseguir explicar as razões.
Tenho um vasto rol de eventuais erros e injustiças cometidos.
George Orwell estava nesse lote.
A persistência de um amigo levou-me a ler o livro, corria o ano de 1990.
Não gostei e, com alguma leviandade, não adiantei porquês.
São atitudes que não gosto de ter, mas acontecem-me.
Como pelo meio do livro se pode ler: «A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Admitido isto, tudo o mais continua.»
É um livro estranho, Sammy.
EliminarDaqueles que podemos deixar a meio, até por ser repetitivo (claro que no meio lá foi metida uma história de amor clandestino...).
A sua história trata-nos mal como seres humanos, mas se pensarmos um pouco, é uma caricatura exagerada, que não foge assim tanto da realidade, como poderemos pensar numa primeira análise.
O busílis da questão é esse, caro Luís: é que nós pensamos.
ResponderEliminarTemos essa obrigação.
Mas por motivos muito meus, nunca deveria ter lido «1984» do George Orwell.
Não foi só o não ter gostado do livro, mas pelas sequelas que ficaram após a sua leitura.
Poderia dizer: «nada que dois ou três gins-tónicos não façam esquecer essas sequelas», mas seria leviano fica por aí.
Também achei que este não é um livro recomendável, Sammy. Trata-nos mal demais.
EliminarPara o caso de o Luís ainda andar às voltas com o trabalho do George Orwell, e a título informativo, digo-lhe que no «Ipsilon» de 10 de Maio vem a crítica a um livro de Jacinta Maria Matos publicado pelas Edições 70: «George Orwell, Biografia Intelectual de Um Guerrilheiro Indesejado».
ResponderEliminarSegundo o crítico António Araújo, Jacinta Maria Matos, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, «não esconde a admiração imensa, mas não acrítica, pelo seu biografado».
Grato, Sammy.
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