sexta-feira, dezembro 07, 2012

O Desastre de Viver em Antecipação


Um dia destes dizem-me, «o Jorge morreu». Sei que fico triste, mesmo percebendo que talvez seja a libertação de uma vida demasiado triste e amargurada, de quem tem teimado ser doente a tempo inteiro desde a infância. 

Às vezes penso que o Jorge nasceu com a "morte" colada ao corpo. Fala vezes demais como se a sentisse como uma cicatriz no rosto, como se fosse forçado a encará-la sempre que se vê ao espelho ou no reflexo de qualquer montra.

Conhece mais médicos que  todos nós juntos, porque consegue transformar qualquer dor passageira num drama quase apocalíptico. 

Confessou-me um dia destes que se tivesse dinheiro fazia psicanálise à séria. Quase a sorrir acrescentou que havia sempre a possibilidade de  passar a gostar da morte, e sempre lhe podia propor casamento, para depois tentarem viver felizes para sempre.

Óscar Niemeyer foi a antítese de Jorge, quis viver todas as vidas que lhe deixaram, deixando uma obra ímpar no Brasil e no Mundo. A minha prima Ana escreveu hoje nas páginas do "Público" um perfil quase biográfico, "O poeta da linha curva", que vale a pena ler...

O óleo é de Zhang Wen Xin.

4 comentários:

  1. Infelizmente existem muitos mais Jorge(s) que Óscar(es)...

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  2. Há gente que vive e morre quase sem se dar conta de que existiram. Outros continuam vivos muitos anos depois da sua partida fisica deste mundo.

    Um abraço e bom fim de semana

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  3. sim, o Óscar e o Manoel, assim como os meus amigos Fernando e Manel (quase nos noventa...), são excepções, Graça.

    viver é uma benção dos deuses, todos, e provavelmente também de alguns demónios.

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  4. sim, a maioria, Elvira.

    até medo de pensar pela sua cabeça, preferem ir no rebanho...

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