Uma das coisas que me faz confusão é ver os portugueses mais preocupados com a reforma do vizinho do lado - longe de ser milionária, mas ligeiramente superior à sua... -, que com as reformas obscenas de vários políticos e gestores públicos, obtidas apenas com uma dúzia (e até menos) de anos de trabalho, quase sempre incompetente.
Ainda este fim de semana assisti a um episódio, que exemplifica muito bem este sentimento. Falou-se da greve dos estivadores e reparei que a maioria das pessoas estava "inflamada" pelas frases espalhadas por aí, por vários "agentes governamentais", de que os estivadores recebiam ordenados milionários e fingiam que trabalhavam, para fazerem horas extraordinárias.
Uma das coisas que foi puxada para a conversa foi a reforma de um conhecido, que tinha trabalhado no Porto de Lisboa e recebia dois mil e poucos euros, apesar de ainda não ter sessenta anos. Fiquei a saber entretanto que na mesa mais ao lado a dita reforma estava quase em "leilão", já ia em mais de três mil euros...
Em silêncio, pensei logo no Portas e nos seus "independentistas", bons na contra-informação. Como o governo não está a conseguir controlar os movimentos grevistas dos estivadores, espalha pelo país que estes ganham ordenados milionários, na tentativa de virar a "opinião pública" contra eles. E parece que está a conseguir passar a mensagem...
Este país é tão estranho, que os catrogas, os belezas, os miras, os félixes, os leites, os medinas, os coelhos, os cavacos, os loureiros, os gomes, os soares, etc, conseguem estar imunes a tudo, até à inveja dos portugueses pelas suas reformas milionárias. Estes preferem reservar a sua "invejazinha" para os vizinhos de lado, inclusive os que vivem pior que eles...
O óleo é de Fred Cress.
Por isso somos tão pequeninos...
ResponderEliminarNão me preocupo com a reforma do meu vizinho. A minha dá-me preocupações que cheguem, já que depois de ter trabalhado desde os 13 anpos tenho uma reforma de 9.13 por dia...
ResponderEliminarO que me chateia é o PM e seus acólitos virem para a TV dizer que a situação do país é péssima e que todos temos que fazer sacrifícios.
Eu queria tanto fazer os sacrifícios que eles fazem... Eu e a maioria do povo parece-me.
Um abraço
Ao ler teu post, Luis, veio-me à lembrança um poema do Carlos Drumond, sobre o medo. Na verdade, algo que nunca faltou nessa ponta da Ibéria foi medo, e o medo deriva em muitas coisinhas, como a inveja, o rancor e tudo que já disseste. É pena, mas é verdade. Deixo-te o "Congresso Internacional do medo", do CDA, apenas como ilustraçao do queme ocorre agora, ao ler tua ótima observaçao.
ResponderEliminarProvisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
- Drummond
Beijo carinhoso
muito mesmo, "Blonde".
ResponderEliminareu também não Elvira, mas a vizinhança é terrivel. :)
ResponderEliminarboa a tua ternura, Lóri, e claro o poema do inesquecível Drummond. :)
ResponderEliminarA inveja é contraproducente.
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