quarta-feira, novembro 16, 2011

«Esta gente já não se casa, vive junta.»


Fingia mais uma vez que lia o jornal porque era impossível passar ao lado da conversa das duas mulheres, que deviam rondar os sessenta anos e estavam sentadas à minha frente no cacilheiro.
Uma delas lastimava-se à amiga que agora ninguém se casava. Viviam juntos enquanto durava o amor, quando ele acabava, faziam as malas e voltavam para a casa dos pais, dos irmãos ou dos primos.

A outra concordou: «esta gente já não se casa, vive junta». E com um sorriso nos lábios, preso às nuvens que andavam às voltas lá fora, disse que há mais de vinte anos que não ia a um casamento. Depois falou da sua experiência pessoal, dos seus dois filhos que nunca que casaram. Um estava junto e outro ainda vivia lá por casa.


O mais curioso foi nenhuma delas defender os jovens, falar do desemprego, da dificuldade em alugar e comprar casa, dos obstáculos cada vez maiores para se formar uma família. Também nenhuma falou neste tempo que parece não ter espaço para chegar a netos...


Ficaram ambas a recordar os últimos casamentos onde estiveram presentes, para acabarem a falar dos seus, contando os pormenores decorativos dos seus vestido de noiva, brancos como mandava a boa tradição virginal...


Continuei a fingir que lia o jornal, rendido ao Cristiano Ronaldo e companheiros, que tinham goleado a Bósnia, que demonstrara dificuldades em jogar em relvados normais. Até que o cacilheiro chegou ao cais...


O óleo é de Juan Moreno Aguada.

14 comentários:

  1. As pessoas dessa idade deviam ter outro tipo de preocupações para além de falarem sobre se os joven se casam ou se juntam...
    Não vamos longe, assim...

    Beijinho, Luís.

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  2. Adoro ouvir conversas... :) para depois poder escrever...

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  3. Pois! :-))
    Mas quem se casa também vive junta...
    Há conversas bem interessantes! :-))


    Abraço

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  4. :) Eu também gostava de ir a casamentos e já há algum tempo que não vou a um :(

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  5. as conversas são como as cerejas, Maria.

    deve ter acontecido algo que as fez falar da quase inexistência de casamentos...

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  6. eu também, Laura (deve notar-se...) :)

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  7. parece que elas têm razão, o casamento também está em crise, Gábi. :)

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  8. Somos um povo ainda muito vergado à tirania dos preceitos da Igreja. O resto não interessa! Eu acho ótimo: detesto ir a casamentos!...

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  9. É verdade que assim é. Meu filho está junto, minha sobrinha idem e os filhos de amigos também. Não censuro cada um tem o seu jeito de ser e viver. E depois os casamentos dizem que estão pela hora da morte. Penso que não seja por aí, uma vez que quem se quiser casar o pode fazer sem festa. Por outro lado, os jovens que conheço, que estão juntos (incluindo o filho) tem a mesma despesa que se fossem casados. Compraram casa que estão a pagar, tem filhos etc. Por isso eu acho que é mesmo uma opção de vida e nada tem a ver com a vida difícil que todos temos.
    Um abraço

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  10. gostei!Ainda ontem conversava com alguém e disse que quando não há tema para um artigo, nada melhor do que andar de transportes públicos.
    beijinho

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  11. sim, também é uma opção de vida, Elvira.

    torna tudo mais fácil.

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  12. ou na rua, na mercearia do bairro, no café. onde há gente há histórias, Piedade. :)

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  13. mas há que goste, Carol, da festança, das fotografias, etc. :)

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