Fingia mais uma vez que lia o jornal porque era impossível passar ao lado da conversa das duas mulheres, que deviam rondar os sessenta anos e estavam sentadas à minha frente no cacilheiro. Uma delas lastimava-se à amiga que agora ninguém se casava. Viviam juntos enquanto durava o amor, quando ele acabava, faziam as malas e voltavam para a casa dos pais, dos irmãos ou dos primos.
A outra concordou: «esta gente já não se casa, vive junta». E com um sorriso nos lábios, preso às nuvens que andavam às voltas lá fora, disse que há mais de vinte anos que não ia a um casamento. Depois falou da sua experiência pessoal, dos seus dois filhos que nunca que casaram. Um estava junto e outro ainda vivia lá por casa.
O mais curioso foi nenhuma delas defender os jovens, falar do desemprego, da dificuldade em alugar e comprar casa, dos obstáculos cada vez maiores para se formar uma família. Também nenhuma falou neste tempo que parece não ter espaço para chegar a netos...
Ficaram ambas a recordar os últimos casamentos onde estiveram presentes, para acabarem a falar dos seus, contando os pormenores decorativos dos seus vestido de noiva, brancos como mandava a boa tradição virginal...
Continuei a fingir que lia o jornal, rendido ao Cristiano Ronaldo e companheiros, que tinham goleado a Bósnia, que demonstrara dificuldades em jogar em relvados normais. Até que o cacilheiro chegou ao cais...
O óleo é de Juan Moreno Aguada.
As pessoas dessa idade deviam ter outro tipo de preocupações para além de falarem sobre se os joven se casam ou se juntam...
ResponderEliminarNão vamos longe, assim...
Beijinho, Luís.
Adoro ouvir conversas... :) para depois poder escrever...
ResponderEliminarPois! :-))
ResponderEliminarMas quem se casa também vive junta...
Há conversas bem interessantes! :-))
Abraço
:) Eu também gostava de ir a casamentos e já há algum tempo que não vou a um :(
ResponderEliminaras conversas são como as cerejas, Maria.
ResponderEliminardeve ter acontecido algo que as fez falar da quase inexistência de casamentos...
eu também, Laura (deve notar-se...) :)
ResponderEliminarmas não se casa, Rosa. :)
ResponderEliminarparece que elas têm razão, o casamento também está em crise, Gábi. :)
ResponderEliminarSomos um povo ainda muito vergado à tirania dos preceitos da Igreja. O resto não interessa! Eu acho ótimo: detesto ir a casamentos!...
ResponderEliminarÉ verdade que assim é. Meu filho está junto, minha sobrinha idem e os filhos de amigos também. Não censuro cada um tem o seu jeito de ser e viver. E depois os casamentos dizem que estão pela hora da morte. Penso que não seja por aí, uma vez que quem se quiser casar o pode fazer sem festa. Por outro lado, os jovens que conheço, que estão juntos (incluindo o filho) tem a mesma despesa que se fossem casados. Compraram casa que estão a pagar, tem filhos etc. Por isso eu acho que é mesmo uma opção de vida e nada tem a ver com a vida difícil que todos temos.
ResponderEliminarUm abraço
gostei!Ainda ontem conversava com alguém e disse que quando não há tema para um artigo, nada melhor do que andar de transportes públicos.
ResponderEliminarbeijinho
sim, também é uma opção de vida, Elvira.
ResponderEliminartorna tudo mais fácil.
ou na rua, na mercearia do bairro, no café. onde há gente há histórias, Piedade. :)
ResponderEliminarmas há que goste, Carol, da festança, das fotografias, etc. :)
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