quinta-feira, novembro 10, 2011

«Vou telefonar para a dona Júlia da SIC!»


Sei que a televisão pode ser quase tudo, por isso não devia estranhar o desabafo daquela senhora de idade na mercearia.


Raramente olho para os programas da manhã e da tarde, o que não me impede de saber que são um lugar onde se exploram cada vez mais as emoções humanas. Para terem matéria para os espectáculos que montam diariamente, os apresentadores lançam convites para quem tem histórias para contar, para aparecer por ali.

Talvez sejam estes convites que tenham a capacidade de transformar a televisão em algo mais importante que um objecto de divertimento, que parece querer funcionar como um "tribunal de justiça" ou uma agência de "cobradores de fraque".

A história da senhora acabou por se juntar à excitação vivida nos últimos dias na escola primária da minha filha, que tem como protagonista um miúdo, penso que autista (dos que foram integrados nas aulas normais para poupar uns euros ao Estado...), que usa a violência, como forma de comunicação. Segundo as histórias que correm nas redondezas é normal bater nos colegas (e até já bateu na professora). Só descobri esta história esta semana quando um grupo de pais ameaçou que ia fechar a escola a cadeado e que a SIC ia estar presente.

Percebi que devia encarar a afirmação da senhora na mercearia, que ia telefonar à dona Júlia da SIC, porque estava farta do deixa andar do senhorio, nada preocupado que lhe chovesse em casa, quase como na rua, com alguma normalidade.

Saí da loja a pensar que só num país estranho, que parece não ter ninguém interessado em resolver os problemas das pessoas, é que a televisão é encarada como uma alternativa mais válida que o recurso aos tribunais ou às forças de segurança...

O óleo é de Berbardien Sternhein.

8 comentários:

  1. Só num país inimaginável que, por azar ou incúria, é real.

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  2. A desresponsabilização é mais que comum, infelizmente...
    Beijos.

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  3. E com a actual situação económica, mais difícil se tornará resolver problemas como este.
    Gostei do óleo.

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  4. Somos uns tristes. E cada vez pior! Ninguém dos "responsáveis" se interessa com coisa nenhuma que aconteça ao ZéPovo!

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  5. e nosso, Helena, para mal dos nossos pecados.

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  6. tudo parece normal, Filoxera.

    enquanto os isaltinos, os godinhos, os loureiros, etc, continuarem impunes, é dificil entender a justiça deste país.

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