sábado, maio 14, 2011

«O Senhor é mesmo detective?»


«O senhor é mesmo detective?» A pergunta não o iludia nem desiludia, mas sabia que vinda de uma criança tinha de ter resposta. E uma criança muito curiosa, por isso é que andava por ali a espreitar, até que um dia conseguiu mesmo meter conversa com o "homem misterioso".


Respondeu-lhe que era várias coisas, detective também, mas clandestino, como todos os que trabalhavam no país.

Nada que interessasse ao rapaz, que queria saber outra coisa, graças aos filmes e livros que devorava: «Também tem um arma?» Disse que sim para não estragar o "filme" que já rodava na cabeça do miúdo que não devia ter mais de doze anos, apenas escondeu que raramente a usava. A mãe chamou-o do corredor e ele foi-se embora, despedindo-se com uma piscadela de olho e um tiro certeiro com os dedos da mão direita.

Sorriu e quando ficou sozinho, pensou como apareceu por ali.

Precisava de ganhar dinheiro e o que recebia nos jornais não chegava. Os biscates que fazia para um investigador foram apenas a ponte que o levou a trabalhar por conta própria, algum tempo depois.

Todos os libertários sonham um dia serem os próprios donos do seu destino, não terem um "amo" de quem recebem ordens. Ele para variar não fugia ao ideal.

Se pudesse escolher aceitava menos casos sobre "infidelidades", mas a lei do mercado não se compadecia com gostos ou vontades...

Uma das coisas que lhe dava algum gozo era ser olhado como um "inimigo" pelos polícias, especialmente os incompetentes.

Nunca esperou nem espera compreensão, muito menos agora que dobrou os cinquenta e vai para velho.


O óleo é de Miquel Bosh.

8 comentários:

  1. Muito bem escrito! E bem retratado. Agora queríamos era o resto da história...
    E, como sempre, a imagem está muito apropriada.
    Parabéns!

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  2. Um belo embrião para um filme policial!
    Adoro policiais!

    Abraço

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  3. Parece que a profissão de detetive é mais fascinante para os miúdos do que propriamente a de polícia! Começo de um enredo para um policial?

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  4. não há resto de história, Carol.

    apeteceu-me falar de detectives. :)

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  5. eu também, Rosa.

    eu diria, mais um começo de "nada"...

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  6. é, e penso que também para os graúdos, Catarina.

    todas as profissões com algo de marginal nos interessam, muitas vezes por chocarem com as nossas vidinhas certinhas.

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  7. acho que consigo imaginar o miudo e o investigador.
    gostei!
    beij

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  8. ainda bem que tens uma boa imaginação, Piedade.

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